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segunda-feira, 13 de junho de 2011

Pindorama (Raymundo Netto)




Que pesavam sobre as caravelas,
Escaras velhas,
Monótonos fados enfadados
Lusos emboabas mascates
Mascotes de Império
Em pústulas, postulantes de epístolas de apoderação

Poder Ação
E Morte.

Que desciam das caravelas
Fid-algas ervas daninhas
Danosas curiosas solitárias e famintas
Em séquito de predação e aporte
A exortar do forte Portugal a sorte
De atentar o Nativo da terra branca inda ilha
E a filha do homem nudipelo que lhe deu amparo
Recebendo em troca desespero amaro
Velas desfraldes de realentejo-alentejoulas
Espelhos colares de contas amuletos
Oraçoeiros cruz sagrada e sangrenta e sonetos
Grafados a pau na brancareia.
A carta de Vaz entre araras e papagaiadas
Caminha entre virgens alfaiadas
afinal.

A Caravela se foi a singrar o mar
A sangrar de mal
A novidade, coberta da lêndea, de sífilis, de mentira e da ganância
Etnocêntrica
A contar a terra verde descoberta
A descobrir a porta aberta
De a nova Civilização.

Largadas largas velas no céu descoberto ao mar aberto
À lharga criolina nos olhos da menina esquecida na baía
Engolfada em palavras crióis pelos cutubas
Que traziam das caravelas
A água de fogo, a impureza para a virgem e a desonra nativa.
A escravidão em sua própria terra de oiruda esperança viva:
“Orabutã! Orabutã!”
Núncia vaga em trança na estreita boca Verdesmeraldinada
Em barbas brancas baças e brumosas
Em nada
Manchando o leito de um povo pobre com opróbrios
Deitando a lenha em Curumins em uma terra desprotegida.
O que ficou das caras velas
Não foi a glória
O que restou das rotas velas foi só a história.

No poema triste da memória sem valor
E das Palmeiras onde o sabiá, por um dia,
Cantou.

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