Não sei o que fiz pra merecer tanta consideração da parte de Nilto Maciel. Nós nunca nos vimos, nunca trocamos uma palavra que não fosse por e-mail, não tenho deztões da competência que ele tem pra escrever um conto, muito menos um romance louco como Carnavalha. Mesmo assim, o Nilto vive me cobrindo de gentileza. No ano passado, me mandou os dois volumes dos seus Contos Reunidos. Mês passado, sempre pelas mãos do seu cupincha Pedro Salgueiro, me mandou o tal romance desvairado e o seu último livro de contos, Luz vermelha que se azula. Os contos, devorei em uma tarde. O livro demorou mais um pouco: dois dias.
A gentileza dada não se olha os dedos, diz a sabedoria eqüina. Mas mesmo assim procuro um motivo para os desvelos do Nilto Maciel. E encontro um, mesmo que saiba que não é esta sua intenção. Nilto me ensina a escrever. Cada palavra sua, cada frase, é uma lição de competência e propriedade. Seus personagens são de carne, de ossos e de sonhos. Suas paisagens passam a viver em nós, como lugares em que devíamos ter vivido. Com Nilto Maciel, parte-se do plausível para o delírio como quem pisca.
Que Nilto Maciel aceite que o adote como um irmão mais velho e mais sábio. Um irmão que nunca vi, mas que aprendi a amar com o amor que se transfere para quem escreve as palavras que amamos.
Tive muitos professores que me transmitiram o pouco que sei e aos quais sou devidamente grato. Mas tive poucos mestres. Uns três, talvez. Estes me ensinaram a pensar, a sentir, a viver e a deixar as marcas da minha passagem pelo mundo. A estes mestres queridos, vem agora se juntar Nilto Maciel, que me ensina a refinar o trato com as palavras. Que me mostra como se urdem os barbantes da realidade com os fios de seda dos delírios para tecer um texto que comprometa e fascine quem o lê.
Se de agora em diante eu passar a escrever melhor, podem ficar certos de que o mérito é deste meu mestre do Ceará.
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