Dizia La Fontaine, o das fábulas, “Correr não adianta. É preciso partir a tempo”. E o que é o tempo e a tempo? Pergunto a Santo Agostinho e ele – quase – responde: “Que é, pois, o tempo? (...) Se ninguém me perguntar, eu sei; se o quiser explicar (...) já não sei”. O mais maroto e um dos mais belos poetas brasileiros contemporâneos, Manoel de Barros, versa: “O tempo só anda de ida”. Pois é.
O futuro chegou como fazia crer Albert Einstein: “Nunca penso no futuro, ele chega rápido demais”. Colecionei 25.550 dias. Abrolhei um ano depois de Trotsky ser assassinado no México e um antes de Vargas se converter em amigo de Franklin Roosevelt na 2ª. Guerra Mundial. Alfabetizei-me na volta da democracia. Estudei em meio a crises, inflações, secas, enchentes, greves, renúncia, golpes e conclui a universidade pública quando a Revolução de 64 se implantava. Como durmo seis horas por dia, gastei 6.380 dias a repousar. Assim, não tenho os tais 25.550 dias, mas (25.550-6380) meros 19.170. Em cada ano passei 30 dias alimentando-me (2 horas por dia) ou um total de 50.400 horas sentado em mesas de café, almoço ou jantar. Ponderando que trabalho e estudo sempre andaram juntos para mim, para fins deste raciocínio, digamos que comecei a estudar/trabalhar aos 10 anos. Apreciando também a média de um trabalhador brasileiro (44 horas por semana) e como o ano tem 52 semanas, chego, a 5.720 dias de efetivos afazeres. Como o meu ócio implica em duas horas por dia, acrescidos do tempo disponível nos sábados, domingos e feriados, direi que, a cada semana, tive 26 horas fora da lida que multiplicadas por anos dá um razoável tempo: 3.944 dias. Conclusão simples: preguiçoso! Então, cara, você é muito mais jovem do que imagina e não é este trabalhador/estudioso que pensa ser. Descansou pra valer, comeu assaz e dormiu um bocado. Vá lá, encara o tempo que falta e manda ver. Estique as pernas, trabalhe e pare de fazer contas confusas. Afinal, o que conta não é o que se conta, mas o que não se conta.
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