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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Barracão (Clauder Arcanjo)



Na calçada, a poça fétida de lama. Como porta, um madeirite velho; resto da obra da nova catedral.

Desde a entrada, chão batido. E o luxo de uma cadeira de balanço usada, picadeiro das aranhas, e dois tamboretes desconjuntados.

No mais, apenas outro cômodo: quarto, cozinha, despensa e banheiro. Quatro em um. Integração de espaço e pobreza. Sobre o fogareiro, um bule de café frio, borra da semana. Nas prateleiras tortas: sal, meio quilo de açúcar e duas latas esperançosas por feijão e farinha.

Ao canto, de olho rútilo e corpo esquelético, o velho companheiro, a catar moscas na modorra da tarde. Nunca entendera tamanha fidelidade canina.

O apito da Central. A lembrança de Rosinha. Quis espantar a mosca da raiva do canto da boca, mas não pôde. Ela estava em cada fresta de ausência do barracão. Era horrível, mas era verdade.

As paredes sabiam quem obrara o milagre da vida naquele humilde barraco.

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