Milho verde na panela, borbulhante. A semana toda, mestre Anísio a preparar o balão da festa (naquele tempo, não se falava em incêndios, somente na alegria dos céus com tão belo artefato). Na despensa, já prontos: o aluá, o bolo de milho, as broas, a canjica, a pamonha, e algumas novidades de Rita, escondidas sob guardanapos brancos, que só seriam reveladas na noite de São João. A surpresa anual da velha e boa cozinheira.
Pedrinho já roera sua espiga, já batera seu prato de canjica quente, já fora e viera, seguidas vezes, ao barraco onde mestre Anísio armava o colorido balão, mas sempre de olho na porteira. Seu pai ainda não voltara da cidade; ele lhe prometera amanhecer no sítio, mas já era quase noite, e nada.
Pedrinho sentiu-se meio triste, e resolveu empoleirar-se no mourão da entrada. De lá, avistaria de longe o cavalo garboso de Zequinha, quando apontasse no extremo do Eldorado.
A noite foi caindo. O milho assado começava a estralar nas trempes montadas no terreiro. As estrelas brilhavam no céu junino, como se em festa com o povo. As bandeirolas coloridas, fixadas nas cercas, formavam uma copa, indo dar no alto do pau-de-sebo. Chão batido, à espera do repique do sanfoneiro e dos casais da quadrilha.
O garoto de costas a tudo. Com os olhos na curva do caminho. “Ele me disse que chegaria cedo...”.
Quando, já cansado, desceu do mourão, o sanfoneiro já puxava o fole: “Olha pro céu, meu amor. Veja como ele está lindo...”. Pedrinho viu uma estrela cadente; um aperto forte no coração. “Cadê papai?”.
Distante, ele nem percebeu o ziguezague de luz junto ao seu chinelo de rabicho. Era Seu Zequinha, com a prometida caixa de busca-pés.
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