E canta, e canta, e(n)canta
a corruíra o dia inteiro,
vai animando o terreiro
com sua maviosa garganta.
Tenho tido indagado
onde está a sabedoria,
procurei da prática à teoria
e não hei nunca encontrado.
Olho o tempo pelo viés
e fico meio assustado,
marchas, contramarchas, rés,
vivo a viver alumbrado.
As gavetas têm os recônditos
guardados da intimidade,
aqueles versos indômitos
carentes de humanidade.
Nenhuma folha se agita
neste mundo minudêncio,
o bem-te-vi já não grita,
meu "bosco" é só silêncio.
Vou a pensar bem baixinho
em mais um ano que passa,
e rumino no escaninho,
como o tempo faz devassa.
Manhãzinha mormacenta
pelas veredas do mar,
nenhum vento a embalar
minha prancheta sedenta.
Sol poente. Pura magia.
Barra do Saí. Anoitece.
Ares silentes. Calmaria.
A tarde agoniza. Desfalece.
Voltaram as andorinhas
ao convívio dos beirais,
cantorias e ladainhas
nos bons tempos estivais.
De tragédias em tragédias
segue a vidinha arredia,
prantos, lamúrias, comédias,
vai-se um pouquinho da Poesia.
Têm tido estado felizes
os ventinhos cá da praia,
até parecem petizes
que acharam a essência gaia.
Entrei neste ano novinho
com alguma inspiração,
versos vêm e versos vão,
tratados todos com carinho.
Barra do Saí, 300111
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