Brasília, a pouco mais de cinquenta anos de fundação, já revelou dois aspectos importantes e inquestionáveis: confirmação de seu destino socioeconômico e geopolítico e vocação inata para uma espiritualidade cada vez mais transcendente. Hoje não se duvida mais do desenvolvimento do Centro-Oeste como polo gerador de riquezas para o resto do país. Basta um olhar em direção aos estados de Goiás e Mato Grosso que, após a divisão de seus territórios, confirmam à larga os avanços apontados por cientistas e estudiosos favoráveis à interiorização. E gente do mundo inteiro se sente cada vez mais atraída e magnetizada pelos misteriosos encantos da cidade-síntese edificada no Planalto Central, e até mesmo por algumas regiões do entorno, como Vale do Amanhecer, Cristalina e Alto Paraíso. Brasília é um verdadeiro milagre da modernidade!
Lembremos. Os homens que acorreram ao chamado de um sonho antigo talvez não soubessem da extensão dos caminhos que teriam de percorrer e das dificuldades que teriam de enfrentar; talvez nem imaginassem que aquela mera convocação seria, na verdade, o chamamento para o traçado de uma linha divisória no mapa do Brasil: o antes e o depois da construção de Brasília. Com a transferência do poder, nosso país nunca mais seria o mesmo, tanto para o bem quanto para o mal. Porém essa é outra história.
Hoje, pretende-se falar um pouco de um desses homens pioneiros que, a exemplo do grande e saudoso Ernesto Silva, têm dado valioso contributo ao processo de consolidação da nossa cidade: Adirson Vasconcelos — o jornalista que pressentiu no gesto audaz de Juscelino Kubitschek mais que uma façanha política, mais que uma simples exibição de talento e ousadia. Adirson Vasconcelos, de imediato, compreendeu que a empresa proposta pelo destemido Juscelino trazia no seu bojo elementos cuja transcendência espiritual ia além dos costumeiros fogos de artifício dos bastidores do poder. Aquele homem estava propondo uma mudança radical nos destinos da nação, uma quebra de paradigmas sem paralelo na história do Brasil, uma revolução comportamental nunca vista desde a Inconfidência Mineira, no fim do século XVIII.
E, assim, em 1957, o advogado e jornalista cearense — ainda jovem e sequioso de novidades — desembarca no Planalto, mais precisamente no canteiro central da grande obra. E, no meio daquele ermo de poeira e vento, olha em volta, perscruta, pergunta, questiona, faz anotações e resolve não mais retornar ao Recife, onde trabalhava no jornal Correio do Povo. Naquele mesmo ano, como correspondente, é designado para dar cobertura jornalística aos preparativos da primeira Missa Campal aqui celebrada, em três de maio, por Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota. Três anos depois, assistiu à inauguração da cidade nascida do esforço e da determinação do povo brasileiro. Sim. Brasília é uma vitória do improvável sobre a realidade.
Tão logo pôde acomodar-se, Adirson tratou de fincar os pés no barro deste solo e nunca mais voltar para o lugar de onde veio. Estabelecido, procura registrar as primeiras impressões da urbe recém-inaugurada e, naquele ano de 1960, publica seu primeiro livro O homem e a cidade. Daí por diante, não para de escrever e publicar livros sobre a história de Brasília, em que dá seu testemunho sincero na defesa de aspectos que julga indispensáveis à consolidação da cidade como estratégia de desenvolvimento para o terceiro milênio. Com clarividência de cronista, pôde perceber também que deste chão havia brotado um novo conceito de arquitetura e urbanismo, uma nova concepção de sociedade e uma grande esperança para o sonho de grandeza de um povo ainda sofrido e castigado pela desídia e incompreensão dos que buscam o ganho fácil a qualquer custo.
Foram vinte e sete livros nascidos da pena deste filho de Santana do Acaraú, que chegou também a estudar Administração e História. Em cada um deles, um novo aspecto é acrescentado à historiografia da cidade. Em muitos deles, uma abordagem enriquecedora de fatos ligados à construção, com destaque para os pioneiros mais humildes e esquecidos. E em todos eles, a marca de quem sabe o caminho das pedras, os segredos mais recônditos encravados nos corações dos verdadeiros partícipes da venturosa jornada...
O jeito simples e afável no convívio com as pessoas fazem do autor de Efemérides: As grandes datas de Brasília e JK um estimado companheiro de todas as horas, quer seja em reuniões acadêmicas, de trabalho, ou mesmo em salas de concertos. Humildade e sabedoria já se tornaram marca registrada deste homem cordial e arguto, que continua trabalhando em advocacia e a desencavar “causos” e fatos do período da construção, para contar a histórica saga de candangos, pioneiros da maior epopéia do século XX.
Como jornalista, trabalhou em diversos órgãos de imprensa, como Jornal do Commercio, Correio do Povo, Agência Meridional, TV Goyá, Rádio Planalto (de que foi presidente de 1968 a 1984) e Correio Braziliense, tendo sido ali Redator (1960), Diretor de Redação (1963 a 1965 e 1966 a 1968), Supervisor Regional (1974 a 1980) e Assessor Administrativo da Presidência (1984 a 1995). Trabalhou também, como Assessor Cultural, na Fundação Assis Chateaubriand (1996 a 2003).
Na vida acadêmica, Adirson Vasconcelos presidiu o Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal e é membro de diversas entidades literárias, entre as quais: Academia de Letras e Artes do Planalto (com sede em Luziânia), Academia de Letras de Brasília, Academia Maçônica de Letras (da qual foi presidente), Academia Taguatinguense de Letras, Associação Nacional de Escritores, Sindicato dos Escritores do Distrito Federal. Ainda como jornalista, ganhou prêmios importantes de âmbito nacional. Como escritor, recebeu distinções e louvores pelo teor de suas obras, a maioria voltada para a história de nossa cidade, o que lhe valeu ainda o epíteto de “Historiador de Brasília”. E isso não é pouco.
Hoje, resolvido profissionalmente e com largo trânsito em todos os segmentos da sociedade brasiliense, o pioneiríssimo Adirson Vasconcelos se dedica de corpo e alma a promover filantropia e ação social para os menos favorecidos e a divulgar fatos históricos junto à comunidade estudantil. Um verdadeiro paladino da histórica realização humana e espiritual de Juscelino Kubitschek.
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* João Carlos Taveira, mineiro de Caratinga em Brasília desde 1969, é poeta e crítico literário, com vários livros publicados.
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