Norma não nutria expectativas em relação à vida após inesperada separação. De nada adiantava lhe falar sobre possibilidades. O que desejava era a volta de Felipe, único amor de sua vida. O casamento durara exatos 25 anos, comemorados com festa em prestigiado clube da cidade. Uma noite, ele, abruptamente, disse-lhe que não havia nada mais que justificasse a relação.
Norma era atriz e escritora e, por conta da separação, abandonara ambas as atividades. Aos que perguntavam sobre a falta de uma reação mais condizente com uma pessoa de seu nível, ela dizia que, se escrevesse, derramaria tristezas. Faltavam-lhe alvoroços. Sobravam melancolias.
Nuvens cinzas e espessas acentuavam sua sensação de desviver. Catava seus cacos, tentando não se despedaçar em meio à agonia. Se tentasse encenar, tudo soaria dramático demais.
Teria congelado a alegria dentro das fotos dos seus inúmeros porta-retratos?
O som de um piano chegava até ela. Melodia de um tempo de quaresmeiras, doces colheitas, ânsias de paixão. Cores. Hoje, sua vida era um filme noir. Lágrimas, partidas e saudades.
Da janela, observa um navio que desliza sobre o oceano. ─ Decerto carrega milhares de ilusões. Quisera ser uma das passageiras! ─ reflete.
─ Haveria, ainda, esperança? ─ indaga a si mesma, ao mesmo tempo em que balança a cabeça negativamente. Com um copo de uísque na mão, constata que sua única certeza é quanto à fidelidade do álcool.
Consciente de que os dias passarão e que não haverá mudança no cenário emocional, esfrega as mãos nervosamente, vai à janela e cai num choro convulso, murmurando: ─ Quisera, ao menos, voltar a sonhar colorido!
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