Se, por falta de tempo ou dinheiro, você não pode ir ver a mais nova exposição do Museu da Ciência de Londres, dê uma passadinha aqui em casa. Vai dar no mesmo. Aliás, em sua própria casa você pode apreciar réplicas idênticas às exibidas no célebre museu. O nome da exposição é bastante sugestivo: Hidden Heroes, quer dizer, Heróis Escondidos. E lá você vai encontrar em exposição coisas simples como o clipe, o pegador de roupa ou o filtro de papel.
Um dia, uma amiga agradecida, prometeu rezar todo dia uma ave-maria para o inventor do liquidificador. O mesmo louvor devem merecer os criadores do ferro de passar roupa, da geladeira, do desentupidor de pia. Mas estas são já invenções grandiosas, que dão na vista. O que o museu londrino quer mostrar são coisas menores, as pequenas bugigangas que passam despercebidas pelas nossas mãos a cada minuto das nossas vidas.
Mesmo contrariando a Danusa Leão, sou um entusiasta do palito de dentes. Louvo quase diariamente o inventor do mecanismo de abrir latas de cerveja. Gostaria de abraçar o gênio que colocou rodinhas nas malas de viagem. Beijaria sem constrangimento o inspirado criador do fecho éclair, que depois virou zíper para as gerações mais novas.
Mas o meu voto direto para santo é do inventor do clipe. Não existe desenho mais perfeito do que o desse objeto simples e despojado. Não há nada oculto, nenhum mecanismo obscuro. E são infinitas as suas possibilidades de uso. Serve para cutucar o ouvido, tirar o carro do prego, fazer um colar ou simplesmente ser desdobrado e jogado no lixo. Mas a sua função principal é quase divina. Um clipe liga uma coisa a outra, servindo de elo entre diferentes registros da nossa experiência cotidiana. Pode ser duas fotos, duas contas de supermercado, as folhas de um texto inacabado.
Unir e lembrar. Evitar a dispersão. Nunca pensei que uma simples bugiganga pudesse me lembrar o trabalho unificador de Eros. É nisso em que dá começar uma crônica sem um assunto claro na cabeça.
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