Açude Velho, velho que nas plagas
Ondulantes emerge como um sonho.
Evocas minha infância, nela ponho
Todo meu ser coberto hoje de mágoas.
Não falo no veludo que me afaga
Os pensamentos todos, os tristonhos
Sentimentos, discretos; não deponho,
E em silêncio me banho nas tuas águas.
Vejo-te assim tristonho, velho açude,
Sem gozar nem um pouco de saúde.
Pelo verde que tem ao teu redor,
Noto o feliz contraste em nossa dor.
Eu, quando a tristeza surge, fujo;
Já tu não, pois poluído sofres sujo.
*
Açude Velho... Surge-me qual sonho,
Sonho nas tuas lodosas águas negras.
Lembro sempre o menino que me nega
O tempo, que só passa, como lodo.
(Contemplo.) Nada digo, já não posso.
Calo diante de ti como quem medra,
Olhando pro teu corpo aqui nas pedras;
Todo em silêncio, banho em ti meu corpo.
Vejo em ti meu passado, vejo mesmo
Minha meditação que ali vai a esmo.
“Como somos iguais!” Eu – ferimentos;
Tu – sujeira. Somente nisso penso.
Mas penso que também nós seguimos:
Tu secando, eu – a cada dia morrendo.
__________*Ranieri Basílio (1987) nasceu em Cariré, Ceará, onde mora, pertinho do Açude Velho. Faz o curso de Letras Plenas Hab. Língua Portuguesa, na Universidade Estadual Vale do Acaraú, UVA. É alguém que gosta de prometer... Deseja um dia realizar mais.
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