(Pedro Salgueiro, Carmélia Aragão, Nilto Maciel, Aíla Sampaio e Raymundo Netto)
O conto é o gênero literário mais cultuado no Ceará (alguém já afirmou que temos mais contadores de histórias que bodegueiros). Rara foi a geração que não nos deu pelo menos meia dúzia de bons contistas. Mas raros são os excepcionais, visto que o gênero é difícil, escorregadio, enganoso, muitos acham que basta contar uma anedota interessante, alinhavar bem um caso curioso, para obter êxito.
Atualmente temos pelo menos quatro gerações produzindo narrativas curtas de boa qualidade por aqui. Não sem tempo, a SecultCE editará em breve edição completa dos contos do saudoso Moreira Campos, trazendo inclusive seu livro inédito A Gota Delirante. Em agosto próximo, o nosso maior contista vivo, o oitentão Caio Porfírio Carneiro, lançará em Fortaleza (comemorando 50 anos de sua estreia com o já clássico “Trapiá”) sua nova coletânea: Veredas da Caminhada.
Há poucos meses dois escritores que publicaram pela primeira vez nos Anos 70 nos presentearam com dois ótimos livros: Airton Monte lançou o longamente aguardado, Os Bailarinos, e Nilto Maciel editou seu nono livro de narrativas, Luz Vermelha que se Azula. Obras importantes que solidificam dois dos mais importantes nomes de nossas letras.
Depois de quase 3 décadas afastados da literatura, dois remanescentes dos Anos 80, Eugênio Leandro (que só havia editado Rei Piau, acaba de lançar o pujante A Noite dos Manequins) e Isa Magalhães (que estreou com Psiu, o síndico pode estar ouvindo, editará em breve O Jogo do Amor) retornam ao gênero conto.
As ótimas Inez Figueredo (que estreou maravilhosamente bem no conto com Palavras por Aí à Ventura) e Maria Thereza Leite (que com seu terceiro livro de histórias curtas, Avenida dos Ventos, a ser lançado brevemente, se solidifica como uma de nossas melhores contistas) enriquecem com seus talentos este gênero que no passado recente recebeu importantes contribuições de escritoras como Margarida Sabóia de Carvalho, Natércia Campos, Beatriz Alcântara, Regine Limaverde, Joyce Cavalcante, Angela Gutiérrez, Lurdinha Leite Barbosa e muitas, muitas outras.
De uma geração que estreou nos Anos 90 dois excelentes escritores nos trouxeram obras singulares: os premiadíssimos Joan Edesson de Oliveira, com seu fantástico O Plantador de Borboletas, e Tércia Montenegro, com seu belo O Tempo em Estado Sólido, que recentemente venceu o prestigioso Prêmio Governo do Estado de Minas Gerais. Geração que já nos deu Ronaldo Correia de Brito, Dimas Carvalho, Luciano Bonfim, Paulo de Tarso Pardal, Jorge Pieiro, Alano de Freitas, Astolfo Lima Sandy...
Outro livro de narrativas breves bastante aguardado foi Os Acangapebas, de Raymundo Netto (vencedor do Edital da SecultFOR e do Prêmio Osmundo Pontes de Literatura, da Academia Cearense de Letras), digno representante de uma geração recente que já nos apresentou Fernando Siqueira Pinheiro (com O Tatuador de Palavras e Ao Lado do Morto), Carlos Vazconcelos (com Mundo dos Vivos), Túlio Monteiro (com Dois Dedos de Prosa com Graciliano Ramos), Carmélia Aragão (com Eu Vou Esquecer Você em Paris), Alan Santiago (com Lua de Ur num Prato de Terra), Renato Barros de Castro (com Dulcineia em Hollywood), Brennand Bandeira (com Entre Oito Paredes), Junior Ratts (com Sweet Dreams), Dércio Braúna (com Como um Cão que Sonha a Noite Só), Angela Calou (com Eu Tenho Medo de Gorki), dentre vários outros.
Através de Edital da SecultCE, recentemente foi publicada a coletânea Quantas de Nós, com histórias curtas de Carmélia Aragão, Cleudene Aragão, Vânia Vasconcelos, Ruth de Paula, Maria Thereza Leite e Inês Cardoso.
De uma geração ainda mais nova foi editada a seleta Metropolis (Edital da SecultFOR), que traz sete contos de cada um dos sete participantes: Anna Karine Lima, Fernanda Meireles, Flávia Oliveira, Joice Nunes, Mariana Marques, Natércia Pontes (que lançou o livrete Az Mulerez) e Jorge Pieiro (único veterano do grupo, que acaba de publicar o livro de contemas, como ele denomina seus relatos breves, O Outro Dono do Fim do Mundo), quase todos inéditos em livro e que têm na internet seu principal campo de atuação.
Além dessa quantidade formidável de lançamentos recentes, os contos vêm sendo incansavelmente publicados nas diversas revistas literárias (Acauã, Corsário, Pajeurbe, Pindaíba, Literapia, Caos Portátil, Singular, Para Mamíferos, Aldeota, Pechisbeque etc.), mas principalmente nos muitos blogs e sites na internet (dentre os quais destacaria os textos em prosa de Ruy Vasconcelos no seu excelente http://afetivagem.blogspot.com//).
P.S(1).: Não podemos nos esquecer de cearenses que residem há muitos anos em outros Estados, como Caio Porfírio Carneiro, Sérgio Telles, Adriano Espínola, Carlos Gildemar Pontes, Ronaldo Correia de Brito, Rinaldo de Fernandes, Everardo Norões, Majela Colares, entre outros, que continuam publicando bons livros de contos com uma regularidade impressionante.
P.S(2).: Quem cita acaba sempre esquecendo nomes, mas eu jamais poderia omitir três recentes lançamentos: O Romance que Explodiu, de Carlos Emilio Corrêa Lima (que já havia publicado Ofos, de narrativas, nos Anos 70), Malindrânia, do poeta Adriano Espínola (que faz sua estréia no gênero conto) e O Professor de Piano, de Rinaldo de Fernandes (maranhense hoje radicado na Paraíba, mas que fez faculdade, co-editou a revista Acauã e publicou seus primeiros livros por aqui).
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(*) Pedro Salgueiro nasceu no Ceará (Tamboril, 1964). Publicou O Peso do Morto (1995), O Espantalho (1996), Brincar com Armas (2000), Dos Valores do Inimigo (2005) e Inimigos (2007), de contos; além de Fortaleza Voadora (2007), de crônicas. Edita, em parceria, as revistas Caos Portátil e Para Mamíferos. Organizou as coletâneas Almanaque de Contos Cearense (1997) e O Cravo Roxo do Diabo: o conto fantástico no Ceará (2011). Algumas faculdades (História, Pedagogia e Agronomia), diversos prêmios literários, contos em suplementos, revistas e antologias, um emprego público vitalício e outras inutilidades afins. Dentre várias atividades: desbravador de abismos, perquiridor de caminhos e descobridor de atalhos.
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