“Sala de jantar // A mesa diz: sim, mas você tem que se cuidar um pouco mais // ... E há também um bufê cheio / de taças. O que quer que digam, / diz, creio que ficarei satisfeito... ” (Joan Brossa)
Por costume, a casa tem sala de jantar. Espaço a garantir que ela seja ocupada em momentos importantes: o consumo e a reunião ao redor da mesa, onde o ar atravessa a cortina como fruto do encontro. “... Lá fora o vento morno impõe o riso / de quem degusta estrelas: e há licores / na sombra onde comer não é preciso...” (Jorge Tufic).
Na sala de jantar podemos alternar ideias com camadas de alta reflexão ao adicionarmos pitadas de alegria e carinho, em embalagem longa vida. E não podemos deixar faltar iniciativa e criatividade, o que geralmente é demonstrado através da poesia, por vezes inspirada na alma da sala de jantar.
Pedro Du Bois, no livro Os objetos e as coisas, mostra que “... da transformação da matéria terá o objeto transitado como coisa, antes ideia...”. Segundo Marco Aqueiva, “Os objetos e as coisas são dotados de significação afetiva, provocando em cada ser humano reações emocionais de caráter subjetivo.” Márcio Almeida reflete, “Que objeto é objetivo (referencial) e desconstruído pelo sujeito que o tem sob a educação dos sentidos?”, enquanto J. Lourenço de Oliveira pergunta, “o objeto impõe o espaço ao sujeito e o sujeito impõe o tempo ao objeto?”
Quantas serão as salas de jantar que têm a proeza de deixar o vento refletir-se nas pessoas ao redor da mesa? Jorge Tufic responde, “Somente os grandes poetas / me fazem sentar à mesa/ e libertar meus dedos da ferrugem, //... somente os grandes amigos/ me fazem trocar tudo, tudo mesmo, / por um cavaco de prosa.”
E nós, ao nos envolver, pensamos em plantar sonhos: criar e recriar os objetos. É nesse ponto que tomamos um caminho diferente, que aceitamos o convite para as grandes aventuras do intelecto, onde cada pessoa reinventa o prato em seu cotidiano, passando pelo desafio de frequentar a sala de jantar. “... Não é tanto o prato que os atraí, / mas a sutileza da sintaxe...” diz Alexandre R. Da Costa
Não importa qual prato é servido, mas sim, a reunião das pessoas e o que se ensina e aprende. Por isso, na sala de jantar podemos imaginar que, ao dividir a mesa com os outros, eles mostram suas ideias detalhadamente e tentam transformar e modelar suas experiências por estarem na sala de jantar, tendo o conhecimento como criação.
“Alguns dizem que se deve ler à mesa / sem essa tal sutileza da sintaxe, dando à refeição / certa distância...” (Alexandre R. Da Costa)
A sala de jantar é o objeto do processo onde a compreensão do pensamento desemboca em uma situação, tarefa que nos conduz a raros momentos em que as palavras são inventadas para esconder o cotidiano.