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sexta-feira, 27 de julho de 2012

Lições da tarde (Ronaldo Monte)



Tenho pena dos homens que perderam suas tardes. Tenho pena de mim, que sou pobre de tardes, tentando salvar algumas delas das salas fechadas em que trabalho. Quero-as de volta, uma a uma, para com elas aprender as eternas lições do tempo.

Aprendo com a tarde que o mais longo dos dias entregará sua luz à penumbra. Não adianta, nem vale a pena, querer retardar o passar do tempo. Inútil negar a lenta invasão das sombras com as luzes atemporais dos shoppings e escritórios. A tarde sempre cairá.
Por mais árduo que seja o dia, a tarde sempre nos espera com uma promessa de descanso. Pagamos um preço alto por não atender a este chamado. Nos lugares em que ainda existem árvores, vemos o recolher das aves assim que o sol começa o seu declínio. Os únicos bichos que não voltam de tarde para casa somos nós, que trocamos o tempo por dinheiro. E vendemos a tarde por tão pouco.

Ainda existem lugares em que as pessoas levam suas cadeiras para a calçada e ficam esperando a tarde findar. Ficam ali, incrustadas no tempo, passando com o tempo, sem resistir a ele. Sabem que dali a pouco será noite e a noite será bem-vinda, pois marcará o fim de mais um ciclo de luz e sombra. O fim é sombra.

Talvez seja o medo do escuro que nos faça melancólicos ao fim da tarde. Talvez seja o medo da morte que nos faz sentir medo da noite. Talvez seja a incerteza de que depois da noite volte a amanhecer. Temos medo de ser despejados do ciclo das noites e dos dias.

A tarde existe para nos ensinar a deslizar entre o claro e o escuro. É a mestra que nos prepara pacientemente para pisar o terreno estrangeiro do sono e por lá encontrar o que temos de mais íntimo e estranho.

A tarde me ensina a arte do silêncio e da espera. E, mais que isto, me ensina a lição da entrega ao escuro que carrego dentro de mim.

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