(Jean-Auguste-Dominique Ingres: Odalisca e escrava)
I
Ó Allah, ela desperta do sono!
Estica-se para se livrar da armadilha
Invisível que lhe envolve os membros...
Sente o torpor no dorso branco
Qual o monte de açúcar
Com que adoço meu paladar.
Dirige o olhar frágil
Para a luz que fere delicada suas pálpebras
E não há palavras por vê-la renascendo
Para depois cair desfalecida de amor em meus braços.
II
Os reis não possuem tesouro comparável.
Os arquitetos reais nunca construíram
Monumento a que equipará-la.
Não há ornamento de prata ou ouro
Nem riqueza sobre a terra
Que se compare ao doce hálito de sua fala.
III
O meu espírito perturba-se na sua ausência.
Debate-se nas sombras das feras
Tomba no ostracismo do espaço
Dissolvido pela música eterna.
IV
O coração não se queixa.
Não há sofrimento,
Nem infelicidade
Quando suas mãos hábeis
Mexem nos meus cabelos.
V
Ela desperta do sono
Coberta de pedrarias invisíveis
Vestida com a túnica sutil
Do meu desejo.
Os seios apontam para o horizonte
Com a ânsia de expandir-se;
O ventre de penugem escassa
Uma larga planície.
Lá semeio meu tesouro.
Ela desperta do sono
Coberta pela gaze fina,
As partículas do dia
Intrometem-se em sua pele.
O sol vem para sua companhia
Enquanto despede-se do resto de sono;
Ela brilha como as pedrarias invisíveis
Que lhe recobrem a nudez – sua única veste.
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