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segunda-feira, 23 de julho de 2012

Relendo Guilherme de Almeida com Sânzio de Azevedo (Nilto Maciel)



Em fevereiro de 2012, a casa editorial Sarau das Letras, de Mossoró, Rio Grande do Norte, editou Relendo Guilherme de Almeida, de Sânzio de Azevedo. Opúsculo de 100 páginas, traz nas abas uns dados biográficos do autor: cearense, professor de literatura na Universidade Federal do Ceará por mais de 30 anos, doutor em Letras, poeta e ensaísta, publicou compêndios de historiografia e biografia literárias. O volume está dividido em sete partes: introdução, fase inicial, decadentismo, modernismo, fase pós-modernista, a contribuição pessoal e conclusão, além de um anexo.

Não sei se há estudos recentes da vida e da poesia de Guilherme de Almeida (1890 - 1969). Não sou pesquisador. Sânzio de Azevedo o é. E dos mais consagrados e competentes. (Esses dois adjetivos nem sempre caminham juntos). Neste escrito há pouco da vida, por não se tratar de biografia. Talvez nem haja uma biografia volumosa do escritor de Simplicidade. Pois as notas de rodapé em Relendo Guilherme de Almeida nos remetem a poucos críticos e estudiosos da obra do vate nascido em Campinas.

Em “Introdução”, o memorialista se antecipa ao ensaísta. E narra como e quando se deu o início da amizade dele com Guilherme: 1964, São Paulo, o cearense como revisor de O Estado de S. Paulo, o paulista como cronista do mesmo jornal. Como todo principiante, o filho de Otacílio de Azevedo teve a petulância de levar ao Príncipe dos Poetas Brasileiros “os originais” de seu “primeiro livro de poemas”. O nobre vate teve a generosidade de ler tudo e de se dizer “encantado” com a poesia do jovem! Para quem acha que escritor mais velho ou mais experiente só deve elogiar os mais novos: Guilherme de Almeida deu “alguns conselhos” a Sânzio e sugeriu a retirada de um soneto.

O segundo capítulo de Relendo Guilherme de Almeida relembra o também cearense Raimundo de Menezes, sucessor do bardo campineiro na Academia Paulista de Letras. E transcreve o poema “A morte”. O autor de Nós contava apenas catorze anos de idade. (Outras peças aparecem ao longo do volume).

Essa fase inicial é também a do penumbrismo de Simplicidade, editado em 1929. Como ilustração, estão reproduzidos trechos ou estrofes de diversas composições de Guilherme de Almeida. É também a fase das chamadas “notas parnasianas”. Segundo o pesquisador, o escritor visitou o parnasianismo por pouco tempo. E se contrapõe a muitos estudiosos: “Há críticos que veem Parnasianismo em quase toda a obra do poeta, mas a meu ver só nos ‘Poemas de Aço’, que fazem parte de ‘Suave Colheita’, podem-se encontrar versos parnasianos” (...).

O pesquisador dedica apenas cinco páginas (39 a 43) à fase decadentista do bardo. E explica: “Como se sabe, o Decadentismo é o lado profano e satânico do Simbolismo: oriundo de uma das faces das Flores do Mal de Baudelaire, essa estética criou (ou recriou) a imagem do poeta maldito, tratando de temas como tédio e vício, sadismo e homossexualismo”. Em Guilherme de Almeida essa “tendência” se manifesta em “Narciso”, “poema em forma de peça teatral”.

O vate paulista foi modernista também, como não poderia deixar de ter sido. São dedicadas 14 páginas a esse período. A começar por A flauta que eu perdi: canções gregas. Editado em 1924, abriga produções de 1921 e 1922, algumas delas estampadas primeiro na revista modernista Klaxon. “Mas onde o Modernismo do poeta eclode com mais força é em dois livros de 1925, Meu e Raça”.

Relendo Guilherme de Almeida é pleno de análises e também de “descobertas” ou revelações notáveis. Como esta: “Curioso é que Encantamento, editado também em 1925, contendo poemas escritos desde 1921, não é rigorosamente uma obra modernista; abriga textos onde se misturam traços românticos e simbolistas, mas tem pelo menos dois poemas que marcaram época dentro da nova estética; são ‘Bailado russo’ e ‘Velocidade’”.

O período pós-modernista de Guilherme de Almeida é estudado nas páginas 59/80. Num dos primeiros parágrafos se lê isto: “O poeta, no livro Acaso, editado somente em 1938, mas composto de 1924 a 1928, reúne textos que rigorosamente não são nem românticos, nem parnasianos, nem simbolistas nem modernistas; são versos que brotaram do sentimento e também da técnica do poeta, já senhor de todos os segredos da versificação”.

O inventário de Sânzio termina sendo também uma breve antologia do bardo de Campinas. Para quem não o conhece, eis, pois, uma oportunidade de chegar perto de um dos mais importantes cultores da poesia no Brasil na primeira metade do século XX (e um pedaço da outra metade).

O anexo da publicação é uma cortesia dos editores Clauder Arcanjo e David Leite: reprodução do texto de Guilherme de Almeida, em 1966, e aposto nas abas do primeiro conjunto de composições poéticas de Sânzio de Azevedo – Cantos da longa ausência.

Na parte final do estudo encontra-se esta opinião de Manuel Bandeira: “Guilherme de Almeida é o maior artista do verso em língua portuguesa”. E Sânzio, certamente, concorda com o criador de Estrela da vida inteira. Sem muito a dizer, dedico-me a ler e reler Bandeira, Guilherme, Sânzio e outros mestres. Afinal, minha opinião não teria nenhuma relevância. Não me calo, porém, após a leitura de Relendo Guilherme de Almeida. Bato palmas e dou parabéns ao poeta de Lanternas cor de aurora.

Fortaleza, 21 de julho de 2012.

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