“Escrevo duro / escrevo escuro / Neste muro / o que procuro, o furo.” (Max Martins)
Através da palavra é possível redescobrir na expressão o nome como reconhecimento de que o buraco existe e significa, segundo o dicionário, abertura, intervalo, orifício artificial ou natural, orgânico, geológico, planetário, cósmico estelar, concreto e mesmo abstrato. Lêdo Ivo questiona, “Que pretende Deus / com tantas estrelas / e buracos negros / no espaço infinito?”
É imprevisível o destino que encontro na palavra buraco. Cada mudança indica ter como objetivo situar a palavra na realidade, no comportamento e, ainda, alcançar a concisão. Contudo, ele é considerado símbolo em várias áreas e assuntos, como: buraco (jogo de cartas); buraco da fechadura; buraco negro; Buraco na Sombra (refúgio para sobrevoar o esquecimento); O Buraco de Máluca (interrupção das camadas da retina na área central da visão). Também, existe o mito de que sonhar com buraco no solo representaria aspectos escondidos da vida, e sonhar que caiu no buraco simbolizaria problema em sua vida.
A palavra buraco apresenta inúmeros sentidos através das várias linguagens. Saliento a literária, como o best seller de Ken Follett, O Buraco da Agulha, de 1978, em que o autor conta uma fração da história da Segunda Guerra Mundial, seguindo temática entre a ficção política e a trama de espionagem, ou O Buraco do Espelho, de Arnaldo Antunes, “O buraco do espelho está fechado / agora eu tenho que ficar aqui / com um olho aberto, outro acordado / no lado de lá onde eu caí...” Há também o livro de contos de Rubem Fonseca, O Buraco na Parede, “ao remover o quadro descobri um pequeno buraco na parede. Olhando pelo braço vi a banheira com chuveiro e uma parte do vaso sanitário... Você não fala nada a ninguém sobre o buraco na parede?...” Na literatura infanto-juvenil, Sérgio Caparelli oferece O Buraco do Tatu, “O tatu cava um buraco / à procura de uma lebre / quando sai para se coçar, / já está em Porto Alegre...”, e Tony Bellotto, com humor, traz o romance detetivesco No Buraco.
Escritores revelam em imagens os mistérios do buraco, como em Benedito C. Silva, “Buraco Negro // De tão perdido / Fui consumido / sem nenhum sentido.” Considero ser estilo, na arte literária, quando alargam seus domínios semânticos por meio de criações e o alimentam em formas sinuosas e gestos, no intuito de exigir a nossa participação na contemplação, na leitura e na crítica que, aos poucos, acompanham a transformação dos significados das palavras. Na eterna competição entre seus significantes e na transfiguração de sua tradução, com a finalidade de atingir o leitor.
As artes se fundem e aumentam o ilusionismo das inspirações em palavras em imagens que refletem as diferentes interpretações e desdobramentos do buraco.
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