A tarde é luz apurada
e sob telhados
repousam os barros da criação:
este, terra trabalhada;
e est’outro, oleiro,
barro da primeva criação.
O sol vai a meio
(não que se tenha partido,
só que vá a caminho de se pôr);
idem o homem, creio:
este sim, é um todo partido,
re-partido – barro que se fez ofensor.
Mas por ser indecifrável
na matéria humana boa parte,
são estas mãos, cardas e sem aprumos,
que têm, por inalienável
devoção, modelado por sua arte
o bem e o mal que somos
*Dércio Braúna é poeta, contista, ensaísta, autor de Metal sem Húmus e Como um cão que sonha a noite só. O presente poema foi extraído de O Pensador do Jardim dos Ossos.
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