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terça-feira, 2 de outubro de 2012

Esconderijos (Nilto Maciel)





No corredor o que fazia a infanta?
Por que não ia, não fugia logo
ou não gritava ou não chorava muito?
Como terá chegado de tão longe?
Quem pela mão serena a conduzira?

Não sei o que a menina lá fazia
naquela noite escura, aquela treva.
Eu tive medo dela, sim, confesso,
da solidão que a trouxe e abandonou,
do seu silêncio de quietude feito.

Então fugi pra muito longe dela,
aos gritos, louco, a lhe pedir socorro.
Eu me livrar queria de seus olhos,
de sua paz e seu descanso posto
ou de su’alma tão de mim ausente.

Mas quem seria aquela pobre infanta?
Uma princesa assim perdida em ermo,
uma rainha de roubado cetro,
uma menina já sem vida ou morta?

Tantas pequenas pelos becos sujos,
pelos caminhos tortos, sem sossego
e sem brinquedo, que pareço mais
resto de gente a se perder na luz.

Não sou parede ou árvore de Deus,
não tenho ouvidos e não vejo nada,
nem sei me conduzir por onde passo,
e nada posso desejar por elas,
as tais meninas nos esconderijos.

6/9/2012

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