É sempre bom defender as garantias alheias. Nunca se sabe se um dia precisaremos
de alguém que defenda as nossas.
1) MULHERES
Não pretendo fazer uma reflexão sociológica. Queria refletir – mesmo superficialmente
– sobre o reinado da aparência, que é soberano no mundo de hoje. Trago o
exemplo de muitas mulheres. Vivemos o mito da juventude eterna, com botoxs,
plásticas e tudo o que possa deter o tempo.
Como já foi observado, muitas mulheres, inclusive as mais jovens, não
usam biquínis ou shorts porque sentem vergonha das celulites e estrias. “Deixam
de ir à praia, festas e até de trabalhar quando se sentem gordas e feias. Só
fazem sexo de luz apagada. Colocam uma lente de aumento nas imperfeições e são
cegas para todo o resto.” Perdoem a platitude: e o reino do Ser e a Essência–
aquilo que vale mesmo? A Morada do Ser? Isso não mais importa. Não? Algumas
estão viciadas em cirurgias plásticas, botoxs, preenchimentos. Outras passam a
vida inteira reféns de regimes malucos. Por quê? Isso gera um enorme
sofrimento. Obcecadas com a aparência, elas têm pânico de envelhecer. Creio que
a mídia e o velho capitalismo têm culpa nessa história de negação de valores e hegemonia
das aparências. Nas adolescentes, já predomina a precoce erotização. Estamos à
beira do precipício, brincando no epicentro de um vulcão.
2) CELULARES
Você está num cinema e toca o celular de alguém e o sujeito fica
conversando como se estivesse em casa. Há algo mais irritante? (Sim, o desprezo
pela vida humana, a corrupção, a traição de valores, mas são outros assuntos.) Não
dá para negar que o celular é útil, mas – como alguém detectou – a própria utilidade
é angustiante. O celular reduziu as pessoas a apenas extremos opostos de uma conexão,
“pontos soltos no ar, sem contacto com o chão”. Onde você se encontra tornou-se
irrelevante, o que significa que em breve ninguém mais vai se encontrar.
Exagero? E a palavra “incomunicável” perdeu o sentido. Estar longe de qualquer
telefone não é mais um sonho realizável de sossego e privacidade – o telefone
foi atrás. Essa idolatria não é uma negação do verdadeiro diálogo?
(Salvador, setembro
de 2012)
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