Em memória de Eric Hobsbawm
“Não creio que haja coisa pior no mundo do que a leviandade,
pois os homens levianos são instrumentos prontos a tomar qualquer partido, por
mais infame, perigoso e pernicioso que seja; sendo assim, é melhor fugir deles
como se foge do fogo”. (Francesco Guicciardini)
Bibliotecas, museus, sebos, cheiro de papel.
Nada me dizem os aparelhos eletrônicos de última geração – e
logo virão outros.
Nostalgia, passadismo?
Eis a memória do mundo.
Essa é a “modernidade” que nos foi dada?
(Que palavra é essa?)
Somos os pistoleiros do entardecer?
Os deslumbrados compram tudo.
“Dinossauros” – assim somos qualificados.
O que importa é o que está dentro, não o seu aparato.
Quase todos só querem a aparência do bolo.
Mas o rebanho quer a novidade.
Cristo parou e foi meditar.
Buda parou e foi meditar.
Os rebanhos enchiam as praças de Berlim, e berravam “viva Hitler”.
Todos
querem ter tudo, e não têm nada.
Sebos, sim, sebos.
Livros de papel – sim, livros de papel.
Não me interessam maquininhas utilitárias.
O esforço é outro.
Sou
cristão, sou marxista, sou agnóstico, estou dentro e fora – nasci em errada
época – sou apenas um fragmento de tudo – , e sou finito.
Aridez pós-utópica?
Assim se vive?
(Sonhos estilhaçados?)
A literatura é o ópio dos intelectuais?
E a TV?
Nada mais importa, tudo é irrelevante.
Resta-nos o individualismo, e a banalização de tudo?
A passividade de um povo é a glória do Governo.
(“Puro panfletarismo retórico”, adverte o promotor interno.)
“Toda época sonha a
anterior.”
(Jules Michelet – 1798–1874)
Cavalguemos.
Sigamos – cavalgando solitários, mas sempre cavalgando –
sempre, até o assobio das Parcas.
(Talvez com dor no
coração, mas iluminados).
Valores? Isso é bobagem.
(Não, não para nós.)
Importa a eficácia –
a “moral” da época.
Cavalguemos – sempre.
(Salvador, outubro de 2012)
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