Lançado recentemente em Brasília, o livro As Árvores Falam (Ed. Movimento, 2012),
de Eugênio Giovenardi, vem comprovar a vocação inequívoca de seu autor para os
assuntos relacionados com a Natureza, o meio ambiente e, enfim, a vida no
planeta Terra. Ambientalista e estudioso do cerrado há quase quarenta anos,
Giovenardi não descuida não só do presente (tão ignorado) como também — e
principalmente — do futuro de nossos descendentes (tão comprometido e incerto).
Neste livro escrito em forma de crônicas prepondera um
diálogo permanente entre o narrador e alguns personagens mirins, que vai desaguar
na grande preocupação de todos: ou renovamos nossa maneira de pensar a respeito
da natureza que nos cerca e da qual fazemos parte, ou sucumbiremos à degradação
e destruição da fauna e da flora por nossas próprias ações comportamentais; ou,
pior ainda, em alguns casos, pela ausência delas. Para o autor, o homem precisa
urgentemente repensar o seu habitat,
se quiser preservá-lo e garantir sua sobrevivência.
E assim o diálogo se abre aos seres animados e
inanimados. A conversa que Eugênio Giovenardi estabelece com pedras, paus,
cupins, flores, galhos, ramos e árvores termina por seduzir insetos e
passarinhos. Mas não só. Vez por outra, ouvimos e presenciamos palpites e
sugestões de cobras, lagartos, macacos, tatus, gatos do mato, bem como de pacas
e outros pequenos roedores — preocupados com a derrubada de árvores, poluição
das águas e, o que é terrível, a ação criminosa do fogo.
Esse universo fantástico e miraculoso é recriado a partir
do Sítio das Neves, do qual o autor se diz hóspede (a propriedade pertence a
todos os seres que lá habitam) e que foi tombado pelo Instituto Brasília
Ambiental (Ibram) como Área de Preservação Permanente, por apresentar
características muito próximas de uma política estabelecida pela Unesco em todo
o mundo. Ali, com a ajuda inestimável de cupins, foram construídas e estão
sendo preservadas mais de 100 represas de cabeceira, que protegem diversas
nascentes e garantem a vida saudável de mil e uma espécies dos reinos vegetal e
animal.
Estendendo-se por quase 200 milhões de hectares, o
cerrado é o segundo maior bioma do nosso país. E, como sabemos, a vegetação é
única, por suas características especiais. Por isso, devia ser preservado com
mais rigor, para impedir que as estatísticas continuem sendo favoráveis à
Amazônia, quando se trata de devastação e de ocupação indevida. Lá, devido a
uma série de fatores e circunstâncias, dentro de 20, 30 anos as áreas
devastadas se reconstituem automaticamente. Aqui, infelizmente, não há salvação
para a devastadora e predatória ação do homem. Nas áreas de cerrado destruído
só há duas expectativas: ou o solo vira deserto ou cede às erosões.
As Árvores Falam
é um livro muito pertinente ao momento político que o país atravessa. E é um
alerta para as gerações presente e futura. Depois da construção de Brasília,
que mudou a face da nossa história e alterou o mapa do Brasil, a preservação do
cerrado passa a se constituir — para todos nós — numa preocupação permanente.
Eugênio Giovenardi, com esse livro, dá o exemplo e aponta com clareza e desvelo
os desastres que ainda podem ser evitados. É leitura urgente, se não
obrigatória.
Brasília, 8 de outubro de 2012.
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