Segundo o cientista Atsushi Senju, “o cão tem
capacidade especial de ler a comunicação humana. Responder quando apontamos e
quando sinalizamos”. Escritores e poetas
com liberdade espelham com a palavra em seu sentido e significado, como o
reconhecimento da presença do cão.
Ter um cão é buscar o contado da sua companhia,
pensar em ter um amigo fiel e o reconhecer como o melhor amigo do homem e
guardião de suas vidas. O poeta Carlos Pessoa Rosa difere ao dizer que “ruas /
curvas de injustiças / onde cães / caçam piolhos e pulgas / e não ladram /
quando jovens roubam / a privacidade / de seus moradores”.
Adalberto da Cunha Melo, em seu livro Cão de olhos amarelos, desvela os
mistérios da vida e da morte na repetição pensada das ideias, “Na cova de
sombra, um cão, / na calçada de um bar gemia. / Era um cão de olhos
amarelos...// sua presença de sombra / era tão densa na calçada, / que as
outras sombras tropeçavam...”
No livro Memórias
de um cão, de Virgínia Wolf, encontramos os mistérios da existência vistos
através dos olhos do melhor amigo do homem.
Mas, a pergunta que paira no vazio é: tenho um cão,
e agora? Essa é a situação que sugere o respirar fundo e questionar-se: cão do
homem? Homem cão? Vida de cão? Pedro Du Bois, em seu livro Os cães que latem, revela as verdades inalcançáveis, onde o homem
desumanizado vive com a desigualdade, o medo e a falta de ética, “... os
caminhos infames, flores sem estames, a luta, o ódio, morte, fuga. — / cães
malditos!” Betusko, em seu poema, mostra, “É noite, os cães latem // todos os
cães, / os amantes partem, / todos eles vão...”
Não posso deixar de questionar se a poesia e a
literatura nos fazem entender, superar e restaurar as imagens e os desencantos,
como escreveu Nilto Maciel: “... Morava sozinho num casarão. Em suma: muita
solidão. Nem sequer um gato para miar-lhe o silêncio, um cão para ladrar-lhe a
escuridão...”
Os escritores, ao descreverem a partir do cotidiano
a vida do cão, retratam os escuros tempos em que ouvíamos latidos de
incertezas, como manifestações a comprovar a importância do cão em nossas vidas
e que, ainda hoje, trazem o silêncio como reflexão, nas palavras de Alphonsus
Guimaraens Filho: “E os outros passam, e as coisas gritam, / e os corações
pobres, se atritam,...// Que é que vejo? Que é que ouço?/ (Rói calado cão o teu
osso)”.
/////