Uma ilha dentro da ilha. Poderia
definir assim o local onde conversávamos, tranquilamente, sobre literatura. A
constante discussão, entre os raros interessados, sobre a evolução – aí já se
encontra embutida uma fonte de discordância excitante – que
ocorreu na poesia brasileira nos últimos cem anos... Bravos companheiros e
fantasmas, nós, na ante-sala do auditório da Biblioteca Pública Estadual. Uma
ilha dentro da ilha...
Uma ilha, cujo centro – outrora
presépio –, hoje, nos implora um resgate do abandono; cujos bairros sofrem um
processo de verticalização que de tão absurdo já ouvi alguém dizer
que é ecologicamente o mais correto.
Fazer o quê, aqui ilhado, discutindo o poema enquanto lá fora se desfazem os tons poéticos e se constroem vitrines de automóveis.
E foi justamente um automóvel que
interrompeu nosso entusiasmo e nos levou à varanda.
Deparamos com algo comum: um
carro cujo motor enfurecido urrava para funcionar. No mais, tudo transcorria “tranquilo”:
os pedestres passavam, as crianças jogavam futebol na quadra. Realmente nada de
anormal acontecia.
Mas um bando de anus brancos foi
buscar repouso (era fim de tarde) nos galhos da aroeira, justo onde estacionara
o carro.
Logo que os entusiasmados anus
começaram a lançar seus piados costumeiros, os meninos interromperam a pelada, e
o que estava mais perto da grade de proteção passou pelo buraco
utilizado como acesso, aproximou-se do pé da árvore e foi logo
lançando um: − Cala boca p... (e o som se propagou como uma pedrada que calou
imediatamente os anus e os poetas).
Um amigo me cutucou e mostrou uma
pixação no muro da quadra: “O ritmo mudou”.
Saímos da varanda rindo do que
consideramos, naquele momento, um chiste.
Restou o ruído do carro para o
bem dos ouvidos sensíveis de crianças que não aprenderam a apreciar a poesia.
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