Publicado o primeiro capítulo
do De meu sol nado, recebi diversas mensagens.
Todas muito interessantes. Roberto Prym, Jorge Tufic e Gerado Lima não quiseram
me deixar preocupado. Outros, porém, me fizeram ficar de orelha em pé. Dimas Macedo me alertou: “Não confie
muito nessa gente excessivamente genial. Mas não deixe de tirar o máximo
proveito de suas escrituras”. Referia-se a James Joyce e Machado de Assis. Respondi assim: “Tenho lido gênios e medíocres também. A vida não
pode ser feita só de alturas. É preciso chafurdar na lama também. Ser porco
alguma vez”.
Menos assustador me pareceu o recado de João Carlos Taveira, por
ele posto no meu blog: “Já vem
você com novidades literárias, de novo! Não decifrei nada (devo ser mesmo muito
burro), mas adorei o título desse livro que pretende lançar brevemente. Sim,
trata-se de um decassílabo heróico perfeito. Aliás, isso em você já se tornou
uma constante, pois não para de criar, de fustigar a imaginação. Vamos esperar
pela surpresa, e enquanto isso nos deliciar com seus escritos aqui no blog —
ferramenta que Machado de Assis teria utilizado à larga, se existisse no seu
tempo, não duvide. Parabéns pelo texto acima e sucesso sempre”. Tranquilo,
mandei-lhe isto: “Pois é, tenho cerca de dez livros na gaveta. Ando sempre às
voltas com eles. Agora quero desenterrar (a gaveta é como um túmulo) alguns
deles e levá-los ao prelo. Por isso, o trabalho de revisão incessante. Não se
preocupe com o enigma do meu título (porque já está decifrado). Eu queria
esconder de todos (como posso fazer isso, se estou na Internet?) a notícia de
que iniciei novo diário literário. Esse era o enigma”.
O livro que pretendo lançar
brevemente é Gregotins de desaprendiz. São
artigos com mais trinta anos, a partir de 1976. Meus primeiros exercícios de “crítica
literária”, se assim posso dizer.
Alberto Bresciani também
ajudou a me serenar. Anda de férias, a ler muito,
como sempre. Referiu-se a uma pilha de livros, prontos para leitura. Tentei me
mostrar nervoso, muito ocupado: “Está baixando a pilha de livros? A
minha sempre aumenta. Não dou conta de ler o que me mandam. É que escrevo
muito, penso muito, invento muito, ando sempre com um ou mais projetos debaixo
do braço, não paro de revisar meus escritos. Dedico-me muito (excessivamente) a
mim mesmo, e acabo deixando os outros de lado. Chamam-me de egoísta e egocêntrico.
É que acho os outros por demais parecidos com caracóis. E me afasto deles.
Deixo-os no quintal. Tenho certo nojo deles. Sim, li Eltânia. Os livros de
Cassas são belíssimos. Estou escrevendo um romance. Iniciei um diário literário
na Internet. Estou revisando um livro de artigos (dá mais trabalho do que
escrever). Tenho 53 livros de amigos à minha espreita. Não terei tempo de ler
todos. Já li tanto (muito coisa boa, excelente, muita coisa ruim também), que
não tenho mais tesão de ler. Acho tudo muito parecido. Aquela coisa do déjà vu”.
(Dino Segre ou Pitigrilli)
Sempre que vejo o sofrimento
alheio, me sinto melhor. Será isto sadismo? Maria Lindgren se queixou: “Ando
meio down”. Fui rápido: “Andas meio down? Na fossa? Pra baixo? Por quê? Alguma
desilusão amorosa? Ou a vida não tem sido amorável? Que andas a fazer? Eu estou
sempre muito down, perdido,
envelhecido, em casa, só a ler e escrever muito, doidamente. Fui obrigado, por
questão de saúde (ou falta de), a parar de beber e fumar. Entrei em depressão.
Tentei o suicídio cinco vezes ou mais. Como não consegui bom resultado, resolvi
viver. Como naquele conto de Pitigrilli. Conhece? Mande notícias boas. Sou
avesso a más notícias”.
Na verdade, não tentei (diretamente)
nenhum suicídio, embora meu comportamento seja de suicida: ler e escrever sem
parar, beber e fumar (já parei), viver em cidade grande, dirigir carro, comer
em restaurante, ver televisão, etc.
(28/janeiro)
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