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domingo, 20 de janeiro de 2013

The end (W. J. Solha)




Adeus ao cinema. Tenho recebido alguns convites – não muitos, mas expressivos – pra integrar elencos de outros filmes, depois de O Som ao Redor e de Era uma vez eu, Verônica – de Kleber Mendonça Filho e Marcelo Gomes – e faço este comunicado porque não quero parecer – a este ou aquele diretor – estar recusando o trabalho que acaso vier a me oferecer. Estava exausto, no final de 2010, quando voltei do Recife com esses dois títulos no currículo e a caminho do sertão, pra participar do curta Antoninha, Laércio Ferreira em sua primeira experiência com ficção. Fui ao sítio Acauã justamente pra não parecer subestimar o roteiro, de que gostara muito, nem o produtor Heleno Bernardo, que me convidara. Mas não tive condições físicas de fazer minha parte como deveria, e acho que tirei o brilho maior que o filme poderia ter. Pela primeira vez eu sentia o que significa “idade”. Mas por que me esgotara tanto? Por causa do peso da responsabilidade que assumira ante tão grandes roteiristas-diretores, em Pernambuco. Passava as noites em claro, nos quartos em que fiquei em Boa Viagem, entregue a ensaios solitários, procurando, milimetricamente, a exatidão de cada olhar, gesto e fala a serem utilizados durante o dia. Valeu a pena, claro. Recebi muitos elogios de críticos daqui e de fora, depois, naturais em obras tão premiadas. E é fácil, para mim, ver que se me saíra bem agora, isso nunca se dera antes, a não ser no curta A Canga, de 2001, em cima de meu livro homônimo e com direção de Marcus Vilar, elenco preparado pelo Nanego Lira. É óbvio que o fator determinante fora o de receber papeis mais densos em 2010, trabalhar com grandes diretores e, também, com grandes assessores deles: Leonardo Lacca e Amanda Gabriel, em O Som ao Redor, Pedro Freire no Verônica. Os papeis, por outro lado, vieram-me por conta do físico certo para meus personagens – o chamado physique du rôle – descoberto pelo cineasta Daniel Aragão ao me ver subir ao palco do Teatro de Santa Isabel, com o maestro Eli-Eri Moura, no final de nossa ópera Dulcineia e Trancoso. Quando ele me ligou, dias depois, convidando-me para um teste, recusei-me. Não queria, mais, me dar mal ante as câmeras. Insistiu tanto, que lhe pedi o roteiro do Som... e vi que ali estava um filme e um personagem extraordinários, um modo de superar todo o trauma que me atormentava desde a produção de O Salário da Morte, em 70. E acertei, como acertei ao ser o primeiro a ver que o Vau do Sarapalha iria estourar. Daí que, feita a minha catarse, volto à velha, querida e ingrata literatura. That´s all, folks!

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