Chamo momento de definição quando sei para que e por quanto tempo desejo
colecionar algo ou alguma coisa. O meu momento de definição ocorreu pelo meu
encantamento por fotografias antigas. Olho e sei; olho e decido. Não me
arrependo da escolha, adoro! Pedro Du Bois expressa, “O retratista /
conserva / o foco / de fotografia / no instante / do flash // depois o
negativo.”
Fotografias são como relatos de sombra e coragem,
que ainda vivem e revelam a fabulosa história da vida. Busco por fotos antigas
onde me deparo com provas contundentes para entender o mundo em que as pessoas
viveram.
Colecionar fotos antigas acorda os sentidos de tal
forma que me sinto passeando no tempo pelas lembranças. O que é visível se
torna tátil, de maneira que o tocar a fotografia me aguça os sentidos. E como o
toque é próprio, toma dimensão diferente, como se estivesse a tocar as
lembranças. Há a sensação nova em olhar com as mãos e reavivar descobertas que
só o tempo pode mostrar. Acompanhar os personagens das fotografias torna o
momento em único, num dia especial.
Compreender as fotos pelos sentidos é redescobrir a
maneira de poder ser e de reviver o momento em que elas me olham e tocam o
coração. Como expõe o poeta Artemio Zanon, “Fotografia / da distante
infância / me vejo tão útil, / ansiada esperança.”
Em algumas fotografias apenas passo os olhos, como
se estivesse olhando pelo vão da porta, onde a luz escapa e temo entrar. Fico
imaginando o fato ocorrido e, por vezes, não tenho coragem de reencontrá-lo
naquela imagem. Nesse momento, através de flash de memória, conto
histórias através dos sentidos e, ao viver as palavras com sabor e toque, me
entrego à realidade, assim como descreve Pedro Du Bois, em seu poema, “Confisco
imagens / em relembranças / descoloridas: onde deixei / o tempo fotografado /
em imensidões ampliadas / de saudades.”
As fotos mostram a história ambientada, envolvente,
em épocas mais diversas. Elas trazem perguntas e respostas sobre vários
aspectos, situações e fatos. Olho, toco e vejo os segredos. Sinto que tais
sensações e informações sobre cada uma faz com que eu desfrute ao máximo da
coleção.
O momento de definição é escolher a fotografia,
depois, juntá-la à coleção, onde se misturam tempos e lembranças, dando
significância à minha vida: toco as fotos com os olhos e as olho com os
sentidos. Quando a vida depende de segredos guardados em cada flash, torna-se
uma aventura tocar a foto, com simplicidade, para colocá-la no álbum, porque
vêm à tona fragmentos da sua história, dando voz ou se misturando com a minha
história.
/////