O
Professor José Osvaldo Carioca me propõe uma tarefa difícil: discorrer,
analisar ou ensaiar o seu escrito – futuro livro – “O Cérebro, a sua Mente e a Consciência”. O que eu sei disso? Li
todas as páginas, cocei a cabeça e me deparei com outra afirmação que me meteu
medo: “Modelagem inusitada sobre a
fisiologia do cérebro e da sua mente. Uma base científica para a consciência”.
Ora, se é inusitada para quem mexe com ciências exatas, imagina para quem pouco
sabe das humanas.
Ele
cita autores, pensadores, escritores, filósofos, cientistas, uns grandes,
outros menores, que o caro leitor irá descobrir, página a página. Nacionais e
estrangeiros. Contemporâneos, modernos e dos passados recente ou remoto. Leva-nos
pelo olhar, frase a frase, para o passado, o presente e nos aponta dúvidas – ou
seriam certezas? – sobre o futuro a descobrir.
Carioca emerge na sua química, escrita com “uma plataforma energética evidenciando as trocas de energia entre seres
vivos e meio ambiente”.
Ele
controverte, palmilha e faz crença no palpável e no imponderável. Fé, ciência e
futuro são, ao meu olhar leigo, o tripé formado para pincelar, em quadro
imaginário, o seu juízo de valor. E o faz sem medo de ser avançado. Aqui,
valho-me, graças a Deus, de Carlos Drummond de Andrade (1902–1987) a me salvar
em sua poética: “... as coisas tangíveis
tornam-se insensíveis à palma da mão. Mas as coisas findas, muito mais que
lindas, estas ficarão.”
O que
mais teria eu a acrescentar? Digo que gostei do que li. Fui ate às conclusões,
à bibliografia e entendo o sossego/inconformismo
de um homem maduro que parece tentar sair do quadrado que a ciência lhe impôs e
insurgir-se com teorias novas a partir do muito lido.
Todos
os teóricos estão em patamar ainda não pisado. Um filósofo, muito citado e
pouco lido, o espanhol Ortega y Gasset (1883–1955), dizia que “a ciência consiste em substituir o saber que
parecia seguro por uma teoria, ou seja, algo problemático”. É isso, creio,
o que fundamenta a pesquisa, por anos, do Professor Carioca, o cientista
profético.
Por
outro lado, a fé que o anima na árdua tarefa de tecer semelhanças entre autores
desencontrados faz-nos lembrar de Dostoievski (1821–1881), expoente do romance
russo, ainda no tempo dos Czares. Ele acreditava que “a fé e as demonstrações matemáticas são duas coisas inconciliáveis”.
Ora, isso ele escreveu em seu soturno quarto nos “Diários”, mas o escritor
russo, mesmo de leve, quebra o gelo entre a abstração da fé e a rigidez da
matemática. Ajuízo eu: O que é inconciliável acontece por emergir de um
rompimento.
Albert
Einstein (1879–1955), um dos aludidos nos escritos que não precisa de
apresentação, afirma em contraponto e a favor do Professor Carioca, em “Out of
My Late Years”, que “a ciência sem a
religião é manca, a religião sem a ciência é cega”. Bingo.
Por
último, tentando não perder o fio da meada, há o futuro, o amanhã, o que ainda
está por vir, o vir a ser. Se é vir a ser, é esperança ainda não orquestrada
pela antemanhã. Estamos todos na noite que antecede o futuro, pois vivemos com
um pé na memória do passado e o outro – não plantado no chão – no espaço do
sonho, do que será o futuro. Isso, talvez, seja o nosso leitmotiv.
Dizia
Giacomo Leopardi (1798–1837), poeta italiano, em um suposto diálogo entre
passageiro e vendedor de almanaque em uma viagem de trem: “Aquela vida que é bela não é a vida que se conhece, mas a que não se
conhece; não a vida passada, mas a futura. Com o novo ano, o destino começará a
tratar bem a vós, a mim e a todos os outros, e vida feliz se iniciará. Não é
verdade?” Ao que o vendedor responde: “Esperamos”.
Tudo
parece coincidir, portanto, com o que, acredito, espera o Professor Carioca quando diz, ao concluir
o seu trabalho de análise: “por processos
realizados na quietude da mente e na proximidade dos estados de equilíbrio,
aqui denominados de quase-estático, ou meditativos”.
(Publicado no jornal O Estado, CE, sexta, 25 de janeiro de
2013)
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