(W. J. Solha)
Há
poucos dias vi entrevista de Affonso Romano de Sant´Anna, em que ele falava
sobre a situação da literatura brasileira contemporânea, com várias de nossas
grandes editoras compradas por outras, europeias, todas tendo como meta colocar
aqui seus autores, que já vinham com grande divulgação de seus países de
origem. Claro que isso tem a ver com o fato de que há anos não consigo emplacar
um livro numa delas, sendo que para ver publicados quinhentos exemplares, por A Girafa, de São Paulo, meu romance Relato de Prócula, que recebera uma das
dez bolsas de incentivo da Funarte no ano anterior, tive de desembolsar dez mil
reais. Confirmando que a situação da editora estava péssima, conforme me
dissera o José Nêumanne Pinto, ela quebrou em seguida e seu estoque passou para
a Escrituras. O Tarcísio Pereira, com seu excelente romance O Autor da Novela, obteve a mesma bolsa,
dois ou três depois, e até hoje está inédito.
Aí
a Funjope encomenda uma ópera ao maestro Eli-Eri Moura, ele me pede o libreto,
ela começa a ser montada no final de 2012, com cerca de trinta artistas no
palco – entre atores, palhaços, instrumentistas, bonequeiros, cantores
populares e líricos, dançarinos e pantomimeiros – além de cinco grandes compositores
do Departamento de Música da UFPB, fora o regente, na criação das áreas, quando
a verba da prefeitura foi cancelada. Não fui pago, tudo bem, estou acostumado
com isso, mas me doeu ver tanta gente entusiasmada com o trabalho e ficando, de
repente, num imoral ora veja.
E
aí o longa pernambucano O Som ao Redor,
de Kleber Mendonça Filho, de que participei como ator, ganha o prêmio de melhor
filme da Federação Internacional dos Críticos de Cinema, em Roterdã, em
fevereiro de 2012, sua qualidade é confirmada por outros prêmios – na Dinamarca,
Polônia, Sérvia, no Rio, São Paulo, Salvador, Gramado –, o filme é extremamente
bem recebido nos Estados Unidos, com o The
New York Times o incluindo entre os dez melhores do mundo, no ano, a
crítica brasileira cai de quatro ante a obra-prima... e surge o problema das
salas para exibição, a grande maioria ocupada com filmes estrangeiros ou globais,
inclusive em João Pessoa. Apesar das sessões lotadas em alguns cinemas do Rio e
São Paulo, meu filho foi ver o filme em Fortaleza, onde mora, e – no único
horário disponível, 21:30 – deu com cerca de quarenta pessoas na plateia, o
cinema sem sequer um cartaz pra divulgar o programa.
Em
1990 deixei o teatro. Em 2004, abandonei a pintura. Elpídio Navarro morreu no
ano passado e, sem seu blog, onde toda semana eu desovava um longo ensaio
ilustrado, que ele divulgava a capricho, fiquei sem mais esse espaço. Minha literatura vai para o mesmo caminho, e
o cinema, idem.
Certa
vez eu mostrava a Bica para um dos meus netos, ainda bem novo, quando um colega
do Banco do Brasil mostrou-me ao filho, dizendo, provavelmente por conta do que
conversara com ele até ali: Olha aí uma espécie em extinção.
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