No artigo anterior, aproveitei sugestões do poeta
Luiz Fernandes da Silva, que me apontou nomes de peso surgidos recentemente
para a Literatura Brasileira, especialmente aqueles que moram na província.
Hoje, eu mesmo aponto outros valores reconhecidos pelos atuais leitores e
algumas pequenas editoras. Têm, esses novos, características distintas e
impressionantes: estilos e formas de escrever e criar surpreendentes.
Aqui, um adendo: devo declarar que as “Histórias da
Literatura Brasileira”, escritas no passado, não servem mais pra nada, a não
ser para alguma pesquisa sobre figuras que ficaram na sombra. Sílvio Romero e José
Veríssimo, os dois mais conhecidos, estão fora de qualquer cogitação séria
sobre autores “nacionais” ou “provincianos” em que, por eles foram divididos os
autores. Já não existem províncias, ainda existem Estados Federados (mas,
apenas na letra da Constituição). Na verdade, somos um Brasil único com muitas
“ilhas literárias” como especificou Viana Moog. A proposição de Moog valeu por
algum tempo, mas, graças a Deus e a nós escritores novos, está sendo revista
para hospitalização e sepultamento. O que acontece é que o formalista José
Veríssimo e o sociólogo Sílvio Romero abriram feridas no corpo da Literatura
Brasileira, pespegando-nos a antítese: – A obra ou é sociológica (daí o
romance e os demais gêneros regionalistas); ou clássico-formalista (daí a
literatura urbana, para José Veríssimo, a “legítima literatura brasileira”)
feita por escritores que moram no Rio ou São Paulo, e os demais eram a escória.
Na malfadada classificação, hoje derrubada, até o clássico Machado de Assis
seria (e, no fundo, é também) um regionalista; e Graciliano Ramos, o
regionalista, seria (e é de fato) um escritor nacional. Não sei que coisa mais
sem lógica, mais ridícula do que essa invenção “boba”.
Quem nasceu e viveu no Brasil, sabe escrever bem,
cria e produz obras de ficção de valor (poesia também é ficção), faz-se editado
por si ou por alguém que se considere editor – desde que o livro seja
divulgado, não importa se em Portugal, na França, na China, no Piauí ou no Rio
– todos esses são escritores brasileiros. E pronto.
Poderíamos quase dizer que morreram os críticos e
historiadores literários, com o falecimento de Afrânio Coutinho e Wilson
Martins. Mas, Afrânio Coutinho reuniu, antes, uma equipe invejável de
intelectuais, entre eles, nosso piauiense Assis Brasil, e preencheu bem a falta
da História Literária, do fim do século passado até hoje. Foi feita sob a
orientação de Afrânio Coutinho, com a colaboração de Wilson Martins, Antônio
Cândido, Luís Costa Lima, Eugênio Gomes, Aderaldo Castelo, entre dezenas de
outros grandes nomes da crítica e do magistério. Mas essa “A Literatura no
Brasil” (assim o nome) já está precisando de atualização. Diga-se, a bem da
verdade, que foi Afrânio Coutinho quem veio acabar com a discriminação de
“regionalismo”, trazendo, de seus estudos no exterior, “a nova crítica”. Se os
professores de universidades a desconhecem, pior pra eles. Porque uma nova
geração está surgindo em todos os cantos do Brasil, de fazer inveja aos do
passado. Quantos poderíamos citar? Muitos. Começo pelo Ceará, com Nilto Maciel
e seu grupo da “Literatura – Revista do Escritor Brasileiro”, fundada em
Brasília e depois transportada, com a mesma gana, para Fortaleza. Somente no nº
26, o que tenho em mão, quantos nomes, quantos bons autores? Começa com o
próprio Nilto Maciel, romancista premiadíssimo, que faz uma entrevista a
Francisco Miguel de Moura, onde eu falo dos novos daqui: O. G. Rego, Fontes
Ibiapina, H. Dobal, Rubervan du Nascimento, entre outros. Demais colaboradores
selecionados na revista “Literatura...”, nº 26, mencionada: Nicodemos Sena,
Moema de Castro Silva Olival, Batista de Lima, Adelaide Petters Lessa, Caio
Porfírio Carneiro, Wilson Pereira, Manoel Lobato, Maria Socorro Cardoso Xavier,
Manoel Hygino dos Santos, José Luiz Dutra de Toledo, Berredo de Menezes, Nelson
Hoffmann, Eduardo Campos, Enéas Athanázio, Aricy Curvelo, Jorge Tufic, Aníbal
Beça, José Helder de Sousa, Ângelo d’Ávila, Glauco Matoso, Artêmio Zanon,
Sânzio de Azevedo, Anderson Braga Horta, Luciano Bonfim, Almir Gomes de Castro
e mais alguns, porque o espaço que uso é pequeno.
Este rol de escritores cobre o Brasil de norte a sul, de leste a oeste, sem distinção. Entre eles há mais de uma dezena dos maiores escritores modernos da nossa época, aos quais faltam somente editores de vergonha, professores e universidades que direcionem bem seus alunos, críticos e jornalista. É assim que os leitores vão aparecendo. E nada disto existe no Brasil atual, o que é uma lástima. Cada vez mais nos tornamos o quintal (pra não dizer chiqueiro) dos americanos.
Este rol de escritores cobre o Brasil de norte a sul, de leste a oeste, sem distinção. Entre eles há mais de uma dezena dos maiores escritores modernos da nossa época, aos quais faltam somente editores de vergonha, professores e universidades que direcionem bem seus alunos, críticos e jornalista. É assim que os leitores vão aparecendo. E nada disto existe no Brasil atual, o que é uma lástima. Cada vez mais nos tornamos o quintal (pra não dizer chiqueiro) dos americanos.
* Francisco Miguel de Moura – Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras – franciscomigueldemoura@gmail.com
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