Escrever é ficar nu. É
mostrar-se todo aos outros. É deixar que façam sobre você todo tipo de leitura,
a partir dos valores de quem lê, história de vida, crenças, fantasias e
projeções. Escrever é atirar em alvo desconhecido. A flecha toca o alvo que o
leitor conduz no seu real, imaginário ou no terra-a-terra da sua ótica. Quando
criticamos, elogiamos, brincamos, elucidamos, emitimos opinião sobre pessoa,
coisa ou lugar, é claro que nos expomos. O ato de escrever é uma eterna
exposição, se é julgado sem direito à defesa, criticado até sem dó ou piedade,
pois o leitor é um desconhecido. Dizem que escrever é um ato de coragem.
Prefiro dizer que é medo. Medo de silenciar quanto a fatos, pessoas e atos. É
medo de ser cúmplice do silêncio, indiferença, calúnia, violência, enganadores,
líderes de araque e do descalabro.
Escrever não é vaidade. Ao
contrário. É aceitar que lhe grifem erros, riam de suas ideias e calem, quase
sempre, quando imaginam que você está certo. A palavra posta no papel não mais
lhe pertence e o contexto em que se insere, muitas vezes, é diferente do que
você queria e o leitor imaginava. Saiu e pronto. Não sou muito de revisar o que
escrevo. Se fizer isso, acabo alterando o sentido, mascarando ou destruindo o
que brotou da imaginação, vivência, circunstância, momento e ambiente.
Escrever, para mim, é relação
complexa e solitária. A escrita é filha que se transforma – ou não – em amiga,
amante e até cúmplice, pelo calor que transmite alegria, desabafo ou desejo de
compartilhar o produto de sua criação. Escrever em jornal é, também, não se
policiar. É exercer o direito de ser livre, mesmo que essa liberdade efêmera
esvaia-se no ponto final. Escrever não é amontoar palavras difíceis, metáforas
circundantes, personagens repetidos e conjugar verbos de forma pomposa e
solene. É deixar que o pensamento se corporifique em frases simples e diretas.
Foi E. Hemingway quem disse: “Um escritor sério não deve ser confundido com um
escritor solene: o sério pode ser uma águia, um gavião, até mesmo um papagaio,
mas o solene é sempre uma coruja”.