Acabo de reler A Linguagem da Paixão (Arx,
2007), reunião de artigos e ensaios jornalísticos publicados por Mário Vargas
Llosa em “El País”, Espanha, e noutros veículos afiliados.
Reafirma-se aqui a sua reconhecida e
aclamada vocação beligerante e apaixonada uma comunicação instantânea com o
leitor, através do magistério mais amplo do jornalismo que é sem dúvida uma das
facetas do seu talento infenso à frivolidade e ao superficialismo.
Intelectual em estado puro, empenhado na
defesa do que é bom e justo, dedica-se a educar seus leitores na certeza de que
as palavras geram ações. Homem de convicção, diz o que pensa e age sem temor,
de acordo com a sua crença, sem medir consequências e sem capitular diante do
fracasso que pode demorar, mas acaba chegando para todos.
Não me detenho em nenhum ensaio ou artigo
em particular, mas na sua contribuição ao jornalismo, elevado por sua
cultura humanística e literária a uma espécie de magistratura liberal que
contempla há 50 anos a realidade latino-americana e que, por uma disposição
inata do seu caráter, defende-nos do obscurantismo, dos preconceitos e do
infortúnio de pertencermos ao gênero humano.
Escrevendo sobre Monet e os
inconvenientes da democratização da cultura ou sobre o Leste europeu
e a América Latina, cuja história tem em comum a irrupção pontual de
ditadores, déspotas e tiranozinhos, revigora Vargas Llosa o jornalismo de
opinião e põe em evidência com clareza e lucidez apaixonantes o que disse
Sartre das palavras – que são armas e, como tal, devem ser usadas na
defesa das melhores opções.