Nilto,
A arte
sempre fornece dois grandes momentos para quem a usufrui: aquele em que se
lê o romance, vê o quadro, assiste a uma peça ou filme... e,
outro, em que alguém faz desse primeiro momento uma análise tão
acurada quanto bela. Você domina esses dois instantes. É sempre uma delícia ler
suas estórias e um gozo ver o que diz das produzidas pelos outros.
Ao ler,
agora, seu Gregotins de desaprendiz,
uma constante nas suas resenhas me lembrou a frase de uma grande figura
pessoense dos anos 60, quando cheguei à Paraíba: o professor de literatura da
UFPB Juarez da Gama Batista. "Arte - me disse ele em sua casa - é o
momento em que a pedra que atiramos pro alto para... antes de começar a
cair". Os textos desse seu livro sempre têm esse momento em que a opinião
se cristaliza e faz a sua surpresa. Apresento alguns:
Pág. 9,
sobre Francisco Carvalho: "Não citarei nenhum verso. Seria difícil eleger
este ou aquele, tantos são os mais belos".
Pág. 11,
sobre Juarez Barroso: "Nenhum gênio conceberá escrito como Doutora Isa,
sem ter vivido no sertão. A pesquisa jamais suplantará a vivência
para acabamento de joia como essa".
Pág. 24,
sobre Nagib Jorge Neto: "'A espada do anjo Gabriel'" faz lembrar aquele
povo bíblico, ainda sem "Deus", às vésperas de Cristo, ou
antes, de Moisés".
Pág. 26,
sobre José Alcides Pinto: "Aqui, a urdidura do romantismo, ali o funesto
de Poe".
Pág. 28,
sobre Caio Porfírio Carneiro: "O "sal da terra" dá ao leitor visão
clara e até incandescente daquela vida miserável, como se a luminosidade
excessiva da salina clareasse a própria imaginação do romancista".
Pág. 30,
sobre Adrino Aragão: "é dos poucos salvos do turbulento carnaval literário
iniciado nos anos 1970. (...) Adrino continuou suando, não como folião, e sim como
laborador de contos. Sem confete e sem serpentinas".
Pág. 39,
sobre Emanuel Medeiros Vieira: "Como repórter, não lapida os verbos,
rabisca o papel com linguagem rasteira, pontilhada de gírias. Vez por outra,
uma locução formosa, frisada. repetida. Consciente do incômodo causado
aos próprios ouvidos, o narrador escreve com ira".
Pág. 41,
sobre Batista de Lima: "O poeta procura a palavra possível, até mesmo
trivial, vaidosa dama".
Pág. 45,
sobre Enéas Athanázio: "O autor não se repete, embora seu universo ficcional
seja miúdo".
Pág. 53,
sobre Glauco Rodrigues Corrêa: "Até o mais exigente leitor não deixará de ler o
drama com atenção e gula".
Pág. 55,
sobre Silveira de Souza: "A visão poética de Jorge de Lima terá sido a
mesma de Silveira de Souza, ao inflar de fantástico os seus relatos".
Pág. 61,
sobre Miguel Jorge: "Arte não é espelho liso e inteiriço. É, no máximo,
água em correnteza, em tempestade, é apocalipse".
Pág. 81,
sobre Ubirajara Galli: "O fazer poético é um parto doloroso, um grito sufocado,
um aperto na garganta, um pontapé nos culhões".
Pág. 83,
sobre O. G. Rego de Carvalho: "Ocorrerá ao leitor semelhar-se ele a um
leigo em anatomia, a viajar pelas vísceras de um ser humano".
Pág. 97,
sobre José Peixoto Júnior: "Papiro valioso como pintura de uma região e
seus habitantes".
Grande
Nilto Maciel!
WJ Solha
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