É muito difícil de encontrá-los, mas ainda há aqueles que se
lembram deles e até ainda os procurem. Este povo parece não ter se adaptado aos
nossos costumes. Dizem que há alguns remanescentes vivendo entre nós; trata-se
de lenda ou mais um dogma como outros que nos impuseram. Fala-se que este povo
foi perseguido severamente por não fazer parte do rebanho que marcha
indolentemente e submisso aos ditames da maioria. Há relatos de que este povo
não acreditava no que lhes era pregado aos berros ou escrito em velhos livros
sem uma investigação minuciosa até tornarem em teoria aceita provisoriamente.
Há documentos confiáveis que indicam que este povo não cultuava nenhuma
religião, pois as consideravam causadoras de litígios e separação e que também
consideravam inaceitáveis o luxo e a pompa teatralesca dessas instituições,
enquanto a maioria de seus seguidores morria de fome em casebres sem o mínimo
para a sobrevivência. Os pesquisadores desse povo, certamente com poucos
sobreviventes, tentaram, em vão, achar alguns deles em Tribunais ou Câmaras
Legislativas. Insistentemente, continuam na busca frenética em algumas
universidades, mas até agora a busca tem sido infrutífera. A vontade irrefreada
de encontrá-los levou alguns pesquisadores a buscá-los até em lugares
improváveis de encontrá-los, como nos quartéis. Seus buscadores não cessam a
busca e têm acatado sugestões de algumas pessoas consideradas sábias e
irrepreensíveis. Foram mais algumas decepções. Dizem alguns estudiosos que é
impossível encontrá-los nas cidades abarrotadas de inutilidades massificadas
tornando o cotidiano uma busca irrefreável do supérfluo. Muitos, como eu, já
desistiram de buscá-los. Ainda há uns poucos que relutam em continuar nessa
insana empreitada. Alguns acreditam na possibilidade de encontrá-los em algum
lugar onde a vaidade e a soberba não seja cultuada. Isso tem dificultado, ao
longo dos anos, o sucesso da busca. Outros têm direcionado a procura através
dos campos, distantes do burburinho das cidades. Até agora não foram bem
sucedidos.
De
certo tempo pra cá, tenho lido alguns relatos esporádicos que estão
empreendendo busca em países do exterior, porque pensaram que, diante da impossibilidade de esse
povo se disseminar em nossa terra, desiludidos, buscaram outras paragens. Mais uma vez, exercitamos nossa tendência ao
auto-engano, passamos a acreditar que, talvez em países mais avançados
tecnologicamente do que o nosso, fosse possível encontrar aqueles tão esperados
sensatos. Depois das atitudes desastrosas daqueles países diante de fatos que requereriam
o mínimo de sensatez, desistiram e se dispersaram por lugares inusitados com
remotas chances de serem encontrados. Continuamos, silentes e resolutos na
busca constante, pensando diuturnamente pra onde foram os sensatos?
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