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quarta-feira, 8 de maio de 2013

Contos de Nilto Maciel (Fernando Py)





Grande cultor de contos, o cearense Nilto Maciel envia a esta seção mais uma coletânea do gênero: Luz vermelha que se azula (Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2011). O livro se compõe de mais de sessenta textos, quase todos muito curtos, e são divididos em três partes. Cada uma dessas partes é caracterizada pelo autor, sendo que a primeira parte compreende “contos acolhidos”, ou seja, extraídos do inconsciente. A segunda parte seriam “contos de memória”, formados por lembranças da sua infância. E os da terceira parte, que Maciel designa de “contos da História”, são engendrados a partir de personagens históricos, quando o Autor procura “humanizar os homens célebres” e “inventar personagens que se aproximam dos mitos”.

          Em quase todos os contos do volume o leitor se defronta com situações e personagens de cunho fantástico, de existência por vezes puramente virtual, mas de uma virtualidade quase sempre encarada como real e objetiva pelas demais personagens. Aliás, já foi dito que Maciel possui grande capacidade para criar realidades virtuais a partir dos materiais de ficção, e é essa capacidade que confere a seus contos um relevo próprio. Notem-se, na primeira parte, os contos ‘Os outros’, ‘Luz vermelha que se azula’, ‘Em busca do sol’, ‘O albergue’ e ‘Ela adorava meus olhos verdes’. Dos contos da segunda parte, destacam-se ‘Doidinho’, ‘Valas e abismos’, ‘Precipícios’ e ‘O terceiro copo’. Por fim, na terceira parte, prefiro ‘Entre dançarinos’, ‘O gato preto de Darwin’, ‘Irmãos’, ‘O embusteiro’, ‘O insidioso inseto vermelho’, ‘A arma divina’, ‘As mulheres e o fogo’ e ‘Delírios de um jovem judeu’. Nessa última parte, muitas dessas histórias são oriundas de sonhos dos protagonistas, e esses sonhos podem ser o algo mais, diferente, que atribui às histórias o sabor especial de uma expressão de desejos insatisfeitos. E assim como os textos das partes anteriores, os da terceira parte também podem inserir-se na tópica de criação e desenvolvimento de seres virtuais, acolhidos pelo inconsciente e relatados pela memória. Expostos dessa maneira ao leitor, os contos mostram o gosto muito pessoal do autor e indicam um trabalho ficcional de alta valia. Vale a pena uma leitura cuidadosa do volume.

(Tribuna de Petrópolis, 12/4/13)

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