Grande cultor de contos, o cearense
Nilto Maciel envia a esta seção mais uma coletânea do gênero: Luz vermelha que se azula (Fortaleza:
Expressão Gráfica Editora, 2011). O livro se compõe de mais de sessenta textos,
quase todos muito curtos, e são divididos em três partes. Cada uma dessas
partes é caracterizada pelo autor, sendo que a primeira parte compreende “contos
acolhidos”, ou seja, extraídos do inconsciente. A segunda parte seriam “contos
de memória”, formados por lembranças da sua infância. E os da terceira parte,
que Maciel designa de “contos da História”, são engendrados a partir de
personagens históricos, quando o Autor procura “humanizar os homens célebres” e
“inventar personagens que se aproximam dos mitos”.
Em quase todos os contos do
volume o leitor se defronta com situações e personagens de cunho fantástico, de
existência por vezes puramente virtual, mas de uma virtualidade quase sempre
encarada como real e objetiva pelas demais personagens. Aliás, já foi dito que
Maciel possui grande capacidade para criar realidades virtuais a partir dos materiais
de ficção, e é essa capacidade que confere a seus contos um relevo próprio.
Notem-se, na primeira parte, os contos ‘Os outros’, ‘Luz vermelha que se
azula’, ‘Em busca do sol’, ‘O albergue’ e ‘Ela adorava meus olhos verdes’. Dos
contos da segunda parte, destacam-se ‘Doidinho’, ‘Valas e abismos’,
‘Precipícios’ e ‘O terceiro copo’. Por fim, na terceira parte, prefiro ‘Entre
dançarinos’, ‘O gato preto de Darwin’, ‘Irmãos’, ‘O embusteiro’, ‘O insidioso
inseto vermelho’, ‘A arma divina’, ‘As mulheres e o fogo’ e ‘Delírios de um
jovem judeu’. Nessa última parte, muitas dessas histórias são oriundas de
sonhos dos protagonistas, e esses sonhos podem ser o algo mais, diferente, que
atribui às histórias o sabor especial de uma expressão de desejos
insatisfeitos. E assim como os textos das partes anteriores, os da terceira
parte também podem inserir-se na tópica de criação e desenvolvimento de seres
virtuais, acolhidos pelo inconsciente e relatados pela memória. Expostos dessa
maneira ao leitor, os contos mostram o gosto muito pessoal do autor e indicam
um trabalho ficcional de alta valia. Vale a pena uma leitura cuidadosa do
volume.
(Tribuna de Petrópolis, 12/4/13)
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