(Com
citações diversas...)
Para Adélia
e Dorinha – irmãs e amigas
Para Letícia Arangue, Manairá Athayde (e André) e Carlos Mota (e Inêz)
Para Letícia Arangue, Manairá Athayde (e André) e Carlos Mota (e Inêz)
Informam-me
que uma pessoa muito amiga, muito amada e muito querida está à morte. Devoto-me às palavras – mal rompe a aurora – há mais de 50 anos: eu sei, elas não
mudam o mundo. O que dizer? Mas a palavra tem uma força imensa: nós nascemos
para ela. Somos, como dizia Lacan, “falesseres”. Seres da fala e prometidos à morte, ao
falecimento. Alguém disse que a escuta tem uma função pacificadora, e é cada
vez mais necessária no mundo globalizado em que vivemos. Salman Rushdie
acredita que é “função do poeta: nomear o inominável, apontar as fraudes, tomar
partido, dar forma ao mundo e impedir que adormeça”. Só haverá lugar para fala
e para a escuta, se houver afeto. Afeto, segundo Freud, está no campo do prazer
e do desprazer. O citado Lacan, por sua vez, traz o silogismo “amódio”, que
junta amor e ódio. O que fazer? Fazendo! A
vida seria aquele touro que, segundo o poeta Garcia Lorca, temos de enfrentar,
nem que seja com o traje emprestado do toureiro, como disse alguém. Escrevemos
porque acreditamos que isso dá sentido à nossa vida. Continuaremos escrevendo
porque é também um modo de domar tormentos. O leitor não tem rosto. Mas
insistiremos: não para sermos célebres, por dividendos pecuniários, por
vaidade. Isso não tem importância. É preciso sentir organicamente a palavra para
não poder viver sem ela. E continuamos. Viver é breve, efêmero. E continuaremos com a palavra, mal rompe a
aurora – até.
(Salvador,
maio de 2013)
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