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sábado, 18 de maio de 2013

O menino e a prostituta (Valdivino Braz)


(Conto de um tempo antigo)



        




          — Menino!
          — Senhor?
          — Sabe onde fica o mulherio por aqui?
          — Mu...o quê?
          — Mulherio. Casa de mulheres.
          — Ah, o senhor quer dizer a zona, não é?
          — Isso mesmo. Pra que lado fica?
          — O senhor está fora de rumo. A rua das mulheres fica praquela banda — apontou com o dedo —, lá longe. Mas eu sei onde tem mulher aqui perto. Se quiser, levo o senhor até lá.
          — Onde é?
       
        — Vira-se ali — de novo, mostrou com o dedo —, naquela esquina, depois noutra. É perto.
          — Tem mulher bonita lá?
          — Tem, sim.
          — Então vamos.
          Lado a lado, caminharam na noite da rua sem asfalto. O menino deteve-se um instante, recolheu do chão uma tampinha de garrafa e guardou-a no bolso da calça curta. Colecionava tampinhas, figurinhas, botões, marcas de cigarros e até pregos, além das bolas de gude, fascinado por elas. Mais adiante, tornou a parar, pra retirar um estrepe do pé descalço. Voltando a caminhar, indagou:
          — O senhor mora lá no centro da cidade?
          — Não — respondeu o homem. — Não sou daqui.
          — Ah! — fez o garoto, e calou-se.
          Viraram à direita, depois à esquerda, numa ruazinha obscura e meio esburacada.
          — Tem mesmo mulher por aqui, moleque?
          — Tem, sim. Já estamos chegando.
          Chegaram. O local, um barraco branco, no fim da rua e recuado no terreno sem muro. Claridade de luz, projetada pelo vão da porta aberta. Ao lado, à entrada da casa, um canteiro de flores; suave aroma no ar fresco da noite.
          — Entra, moço — convidou o menino, já do lado de dentro.
O homem entrou, percorrendo os olhos pelo ambiente. Uma sala simples, com mesa e cadeiras, no centro. Um forro plástico, estampado, cobrindo a mesa. Numa parede, um pequeno quadro com figuras de gatos. Noutra, uma velha estampa da Sagrada Família. Uma mulher de trinta e poucos anos, bonita, apareceu na sala. Esboçou um sorriso e cumprimentou o estranho. Vestia singelo vestido, cor-de-rosa, e recendia a perfume barato. O menino se adiantou:
          — Este moço quer falar com a senhora, mãe.
          E tornou a sair para a rua, deixando os dois sozinhos.

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