Luz
vermelha que se azula é um livro de contos, de Nilto Maciel, dividido
em três partes. Na primeira, temos um conjunto de contos que reflete a
existência humana, de forma eclética e palpitante, porque ditadas pelo inconsciente,
sendo, portanto, uma série de histórias que brincam com coisas sérias,
descambando, às vezes, para o lado zombeteiro, quanto para o lado respeitoso,
dependendo, naturalmente, do contexto e daquilo que a natureza humana determina,
inclusive a personificação de uma plêiade de bichinhos, domésticos ou não.
Na segunda parte, a temática é mais caseira, já que a
abordagem é calcada na vida pregressa do autor, auxiliado, de alguma forma,
pela sua portentosa imaginação, num tom quase confessional, o que intensifica a
paixão pelo mundo infanto-juvenil, resgatando fatos contextuais do dia a dia,
trazendo-os para perto do leitor, narrados em primeira pessoa, além de outras
ferramentas que o consagraram como um dos mais respeitados nomes do conto
brasileiro. O cenário é composto por espelhos que captam e refletem imagens
belíssimas da existencialidade.
Os contos da terceira parte, associados ao mundo do realismo
fantástico, dão um mergulho na fantasia para trazer à vida certas pessoas e/ou
personagens que foram verdadeiros ícones do tempo em que viveram, como Alfred
Hitchcock, Mao-Tse-Tung, Charles Darwin, Nero, Padre Cícero, Lampião, Hitler,
Stalin e tantos outros, denunciando a hipocrisia de que se revestiam, sem cair
na vulgaridade e apresentando, invariavelmente, um final inesperado, como sói
acontecer com os grandes contistas, surpreendendo o leitor.
O livro, como um todo, revela um trabalho emblemático, que
percorre os caminhos da literatura, fazendo chegar ao leitor algumas de suas
vertentes prediletas, como a condição humana, a natureza, a vida rodeada pelos
seus abismos, a transcendentalidade e tantas outras que levam o leitor a
refletir. A linguagem é despojada, mas elegante, disciplinada, persuasiva, que
flui, que tem musicalidade, o que reforça o seu caráter literário, uma vez que
prima pela diversidade com qualidade e poder de síntese. Parabéns! Vejam:
(transcrição do conto “Diálogo de protagonistas”)
(Jornal SulBrasil,
Chapecó, 11/julho/2013)
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