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terça-feira, 12 de novembro de 2013

Pecados de estudante (Flávio R. Kothe)





Eu te amei outrora lá em Berlim,
quando moravas no alto do Ku’dam
e eu, com a pele toda a suar sangue,
levava cravos exangues para ti.

Eu não tinha então outro lugar para ir
senão aquele em que ia meu peito partir
ao repartir contigo o jantar e a cama
como se fosse senhor e tu a mucama.

Eras boa, boa de cama, boa de papo,
e o meu pai não te entenderia jamais
quando te levei para não te ver mais,
quando vi querias em mim um papa.

Tu querias poder, tu querias aparecer,
e eu precisava, sobretudo, desaparecer
para não se lembrarem de mim nas salas
de tortura da minha terra, sem salvação.

Supliquei um copo d’água aos deuses
que comigo jogavam peteca na praia
sendo eu a peteca, um louco pateta
a uiscar teus seios, rabiscar tua saia.

Demônios me arrancavam pedaços crus
enquanto eu andava à beira dos lagos,
pela Ringstrasse a caminho de Dahlem,
entre o céu e o inferno que me eras tu.

Nada demais pedi, senão alguma paz,
enquanto eu me perdia em ti, na areia
que havia em tuas veias e na cicuta
que eu bebia em teus lábios lúgubres.

Eu não aprendi a me amar te amando,
gota a gota fizeste pingar em minha veia
o soro irado do ódio comigo, da desfeita
como se não pudesse me ver sem espanto.

Perdi em ti o que eu era, mas aprendi
pouco a pouco, enquanto te desfazias
e tu já não eras mais que fumaça fria:
tanto mais era eu quanto mais te perdia.

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