Eu te
amei outrora lá em Berlim,
quando
moravas no alto do Ku’dam
e eu, com
a pele toda a suar sangue,
levava
cravos exangues para ti.
senão aquele
em que ia meu peito partir
ao
repartir contigo o jantar e a cama
como se
fosse senhor e tu a mucama.
Eras boa,
boa de cama, boa de papo,
e o meu
pai não te entenderia jamais
quando te
levei para não te ver mais,
quando vi
querias em mim um papa.
Tu
querias poder, tu querias aparecer,
e eu
precisava, sobretudo, desaparecer
para não
se lembrarem de mim nas salas
de
tortura da minha terra, sem salvação.
Supliquei
um copo d’água aos deuses
que
comigo jogavam peteca na praia
sendo eu
a peteca, um louco pateta
a uiscar
teus seios, rabiscar tua saia.
Demônios
me arrancavam pedaços crus
enquanto
eu andava à beira dos lagos,
pela
Ringstrasse a caminho de Dahlem,
entre o
céu e o inferno que me eras tu.
Nada
demais pedi, senão alguma paz,
enquanto
eu me perdia em ti, na areia
que havia
em tuas veias e na cicuta
que eu
bebia em teus lábios lúgubres.
Eu não
aprendi a me amar te amando,
gota a
gota fizeste pingar em minha veia
o soro
irado do ódio comigo, da desfeita
como se
não pudesse me ver sem espanto.
Perdi em
ti o que eu era, mas aprendi
pouco a
pouco, enquanto te desfazias
e tu já
não eras mais que fumaça fria:
tanto
mais era eu quanto mais te perdia.
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