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quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Um escritor de Baturité (Franklin Jorge)




Tornou-se Nilto Maciel (1945) uma referência importante entre os cultores, apreciadores e estudiosos da literatura. No caso deste cearense jovial, uma literatura que se faz à margem da indústria cultural, isto é, uma literatura que é produto da contracultura e da estonteante pluralidade de expressões literárias que enriquecem a cultura brasileira e provam-nos que há um mundo de valores e ideias sistematicamente ignorado, tanto pela crítica, escorraçada da prática jornalística e que sobrevive em raras publicações que procuram fugir do marasmo que contamina o universo intelectual.


Escritor que cultiva a auto-ironia e a perspicácia, compartilha Nilto generosamente sua verve criadora lendo e divulgando outros autores e suas obras, pois para ele a criação começa com o exercício da generosidade e do compromisso com a literatura. Faz parte de um pequeno time de escritores que, entre outros, conta com o talento e a disposição para superar egoísmos. Como um Nelson Hoffmann (RS), um Zanoto (MG), e, no âmbito da epistolografia e do jornalismo itinerante, Leila Miccolis (RJ) e Odosvaldo Portugal Neiva (BA), dos quais dois já falecidos, mas sempre lembrados por todos aqueles que ainda vivem e tiveram suas obras lidas e divulgadas desinteressadamente. Compartilham, esses escritores e ativistas culturais, a mesma disposição generosa que resulta desse acolhimento que dispensam à leitura e divulgação de uma produção literária que sobrevive e prolifera longe do protetorado da indústria cultural.

Além de escritor autônomo e criador, desdobrando-se entre a criação literária e a divulgação de obras e autores em busca de leitores, geralmente sacrificando a própria obra, como às vezes deixa registrado em seus escritos, ao referir-se ao numero de autores que o procuram e ao volume de obras que recebe para ler e resenhar nos blogues que mantém e em publicações, como a revista Literatura, bancadas com os seus próprios recursos, fazendo as vezes das instituições que ao longo do tempo se tornaram o porto seguro de gestores medíocres e alienados da realidade cultural do país ou usam dos recursos de que dispõem para a promoção de grupos que vivem de fazer turismo cultural às custas da verba pública.

Vivendo a apenas alguns quilômetros de Natal, em Fortaleza, urdindo sua obra em transe entre a ficção, a memória e o ensaísmo, eventos como a Feira Literária de Natal (FLIN) se enriqueceriam sobremaneira com a sua participação e experiência que faz de Nilto Maciel, para a literatura e para aqueles que a cultivam, um desses “faróis” a que se referiu Baudelaire, ao chamar a nossa atenção para aqueles que criam uma obra digna do reconhecimento dos leitores e, ao mesmo tempo, servem de modelo e inspiração. Afinal, como disse-o Elias Canetti, não há grandes obras sem modelos e exemplos.

Era o que queria dizer, tomando como pretexto minha participação no Festival Literário de Natal 2013, evento que recoloca a nossa cidade no roteiro da literatura e das ideias.

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