Ela era loira, lembro, era alta e
esbelta,
tinha os olhos azuis e um sorriso
letal,
convidou-me à praia de Warnemuende,
na beira do Báltico, na boca do Warnow.
Já era outono, já era finado o bom
verão,
andamos pela areia deserta, mão na mão,
à esquerda o mar, à direita as dunas
altas
coroadas de capins e abetos de cascas
alvas.
Ao longe o navio que ia para a
Dinamarca
apitou, já saudoso de onde partia à
tarde;
os nossos pés deixavam na areia pegadas
já prontas para serem pelo mar
apagadas.
Com um sorriso maroto nos olhos e
lábios
tu me puxaste para um abrigo entre
galhos
e troncos que jaziam lá nas brancas
areias,
tu me beijaste e atraíste como fazem
sereias.
Mas eras mais que sereia, mais que
donzela,
tinhas a plenitude da mulher que se
sabe bela
e que gosta de ser amada por quem ela
gosta:
nos amamos como se houvesse em nós
aposta.
Eu tive de seguir o meu caminho de
exilado,
tu tiveste de cuidar do teu emprego e
passado:
hoje és um raio de luz que me deu o
Báltico,
recuerdo e adiós, e nem disso sequer
saberás.