“Como, caro poeta? / Unir o Sol com a Lua?" – Assim indaga Regina Lyra em
“Breve Ponte”, belo poema
que compõe este
Tempo de Encanto.
Conhecendo três outros
livros da Autora e mais
os trabalhos que
se acham em exposição
no seu “site”, na Internet,
atrevo-me a dizer que
neste Regina resume simbolicamente sua busca atual como pessoa e como poeta. O sentimento quer,
precisa expressar-se. Porém, a poeta sabe que a sua simples expressão
ainda não
constitui poesia. Apenas a melhor
expressão desse sentimento
pode lograr atingir o
"status" de “poema”. O Sol, de longa data associado
à apolínea razão.
A Lua, com seu lado oculto, misterioso, remetendo à dionisíaca
emoção. A adequada união
desses opostos é uma questão
formal e de conteúdo
que atravessa a obra,
constituindo-se num diferencial, sobretudo em relação aos seus dois primeiros livros.
Não que o título “Regina,
Lyra do Sentimento”, com que antes
contemplei um comentário
à sua obra,
não pudesse ser
atribuído ao presente volume.
O leitor perceberá que o exercício
da emoção continua sendo preponderante
na poesia de Regina. Entretanto, nota-se que
em Tempo de Encanto
houve um investimento
maior por
parte da autora em
poemas que
revelam uma atitude mais
reflexiva. Inclusive,
em vários
escritos opta pela
linguagem em
terceira pessoa,
em lugar
da primeira, e se volta
para temas que se acham além
de si.
Vejo tudo isso de uma forma muito positiva,
pois a principal característica do verdadeiro
artista é não
se conformar com
a repetição de formas
e fórmulas, mesmo
quando elas
estão dando certo. Fugir
da repetição e procurar
inovar-se e aprimorar-se sempre é uma
das marcas que
distinguem os verdadeiros poetas e artistas.
O mundo vive
dias nebulosos,
marcados por atentados
terroristas, políticas
intolerantes, ambição
e consumo desmedidos. São momentos nos quais paira
não apenas
um desencanto
em relação
às “promessas da civilização”, mas também uma total
incerteza quanto
ao futuro do Planeta. Assim, sem dúvida, é Tempo de Encanto. Ou
seja, mais do que
nunca precisamos de obras
delicadas e que nos
proponham sentimento, reflexão e harmonia.
Regina, sem ufanismo
ou otimismo
inconsequentes, celebra esses valores ao longo
das encantadoras páginas deste livro.
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Ricardo Alfaya, 1953, jornalista e escritor carioca, faz poesia, conto, crônica, artigo e ensaio, tendo realizado prefácios e comentários críticos para diversos autores.
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Ricardo Alfaya, 1953, jornalista e escritor carioca, faz poesia, conto, crônica, artigo e ensaio, tendo realizado prefácios e comentários críticos para diversos autores.
(*Prefácio:
Tempo de Encanto. João Pessoa: Ed.
Universitária UFPB, 2004)
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