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sexta-feira, 18 de abril de 2014

Proust em ação (Franklin Jorge)



  
Proust, sempre arguto e perspicaz, observa que a arte, como valor espiritual, opõe-se ao utilitarismo da política, que se empenha em tirar vantagens de tudo. E, ao fazê-lo, nos ensina que um livro nunca pode nos contar aquilo que desejamos saber, mas tão-somente despertar em nós o desejo de saber.

Em carta a um amigo, confessa o seu sofrimento ao ver que o seu personagem Charles Swann tornava-se menos simpático e mesmo ridículo a medida que a obra se consolidava, para reconhecer, de imediato, que a arte mesma é um perpétuo sacrifício do sentimento à verdade. Creio que esta visão proustiana define um artista genuíno daquele que não o é.

Sabe-se que os esboços de Proust não têm relevo. Era reescrevendo várias vezes as mesmas passagens que ele, como um pintor dos tempos antigos, acrescentava à secura das anotações iniciais, em sucessivas camadas, o aveludado e a transparência do estilo pelo que se fez reconhecido e admirado.

Em Busca do Tempo Perdido é, assim, uma espécie de palimpsesto, o que o inclui numa tradição. Em primeiro lugar, observo que há essa tendência, da parte de todo artista, de se apropriar das coisas que despertam sua emoção. Excetuando-se o aspecto materialista do roubo, ou seja, algo que resulta do desejo de nos apropriarmos de um belo objeto do qual, por uma série de contingências, fomos privados de sua posse.

O palimpsesto insere-se numa tradição. Desde que o homem inventou a escrita ele reinventa e reescreve uma história que pode ser a sua própria ou de outros. Esse processo, traduzido em termos estritamente literários, justifica a existência dos palimpsestos e a necessidade, inerente ao homem, de ultrapassar limites, em sua ânsia permanente de negação da morte.

Swendenborg, um dos mestres secretos de Borges, disse-nos que uma das três formas de salvação resultaria da criação de uma obra de arte. Ideia que terá levado Proust a afirmar que a imortalidade é possível, sim, mas agora e através da criação de uma obra.

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