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terça-feira, 17 de janeiro de 2006

A poesia de Sérgio Campos (Nilto Maciel)


(Sérgio Campos)


Estreou Sérgio Campos com A Casa dos Elementos, em 1984. É um livro de odes e outras formas poemáticas. Há uma ode ao Mar, com epígrafe de Pablo Neruda. Que poderia ser de Píndaro, pois Sérgio Campos demonstra ser lido do oriente ao ocidente, do clássico ao contemporâneo. A segunda ode é à Terra, com epígrafe de Ernesto Cardenal. Poema ao mesmo tempo lírico e político: “Terra, / os homens lotearam / teu chão: / a poucos, sim; / a muitos, não”.

Na ode ao fogo homenageia Ferreira Gullar e todos os fogos: o primitivo, o dantesco, o bíblico, o fátuo.

sábado, 14 de janeiro de 2006

Apocalipse (Nilto Maciel)


Nós presenciamos sua mansa e serena morte, causa desta nossa imensurável tristeza. E mais melancólicos nos fizemos quando cavamos a sepultura e nela o depositamos. Ele está aqui, bem debaixo desta cruz de madeira, morto. Por acaso necessitamos da mentira para falar e continuar a viver? Por acaso não temos olhos de ver e ouvidos de ouvir? Evidentemente as entranhas da mãe-terra o engoliram, tementes de outras tantas vilanias. Pois atendemos ao seu pedido: “enterrem meu cadáver no mais profundo do chão, de forma a tornar impossível a exumação, quer para violentarem-no, quer para mumificarem-no, pois morro para não mais conviver com os meus inimigos.” Reunimo-nos todos, chorosos ainda, e, com ferramentas e forças, cavamos o mais fundo dos fossos e nele depusemos seu corpo.