Moisés se enfeitou de bigodes e gestos para impressionar as multidões que o aguardavam ciosas feito fêmeas. Calçou as grandes botas de ferro e ordenou aos pajens se ajoelhassem para o polimento. Tirassem a ferrugem toda. Como para adorar as sombrias pernas do Chefe, curvaram-se todos apressadamente, fazendo estrondar o chão. Alguns ainda se lembravam do ritual. Outros, de tão velhos ou de tão jovens, amassaram as magras e caludas mãos no espelho do piso e fizeram sangrar as línguas ressequidas. Os muitos anos de sossego no Armário dos Calçados deixaram envelhecidas as botas. Quase irreconhecíveis. A memória dos antigos pajens, porém, acordou de súbito e as rejuvenescidas botinas caminharam pesadas debaixo do Chefe. O óxido se lhes havia acumulado feito lixo.
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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006
terça-feira, 14 de fevereiro de 2006
Outros poetas do Ceará (Nilto Maciel)
(Nirton Venâncio)
Alheio à palavra de ordem de que a poesia deve ser um grito de denúncia, Nirton Venâncio publicou seu primeiro livro, Roteiro dos Pássaros, em que sussurra versos e fala de suas angústias. Como se o mundo começasse e findasse em si mesmo, ou como se tudo ao seu redor fosse demasiadamente horrível. Não consegue ver nada além de seus limites. O espaço físico é seu corpo ou o espaço que percorre ou habita.
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