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domingo, 14 de maio de 2006

A menina dos olhos (Nilto Maciel)




Corríamos pelo campo, não sei bem com que intenções. Possivelmente desejávamos pegar borboletas ou grilos. Talvez quiséssemos apenas correr. Não consigo lembrar-me dessas migalhas. Já faz muito tempo. Eu devia ser um pedacinho de gente de uns cinco ou seis anos.

Havia uma cerca de arame a dividir o terreno em dois mundos opostos: de um lado capim rasteiro; de outro, terra nua. E tratamos de transpô-la. E já então arrastava-nos a determinação de achar não sei o quê. Uns pareciam mais decididos, como se comandassem os demais. Raquel, sobretudo, que caminhava à frente e de vez em quando parava, abaixava-se, cutucava o chão. Uns acercavam-se dela, faziam-lhe perguntas, arranjavam gravetos e espetavam a terra. Imitavam-na ou queriam agradá-la. Outros, como eu, permaneciam ao largo, mais curiosos que agitados, à espera de novas invenções de Raquel.

segunda-feira, 8 de maio de 2006

Uma crônica de João Brígido (Nilto Maciel)


(João Brígido)

Um editor me pediu um escrito natalino para um jornal. Pensei num cartão, numa carta, numa cartona. Imaginei uma virgem e seu filho. Vasculhei a Bíblia, minha biblioteca. Cheguei a ler um auto pastoril. E terminei na Antologia de João Brígido. Passei o dedo pelo índice e fui dar na crônica “Uma manhã de Noel”. O livro tem quase seiscentas páginas. Parece-me ser esta a única crônica do livro, compilado pelo poeta Jáder de Carvalho, a tocar o tema do 25 de dezembro.