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sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Incêndio (Nilto Maciel)


Carlinhos brincava no quintal. Olhou para o chão e viu uma sombra deslizar, correr. Cheiro de coisa queimada. Depois o mormaço. Ergueu a cabeça. Talvez a nuvem prenunciasse chuva. O sol quase o cegou. Levou as mãos à testa e correu para junto da mãe, que lavava roupa próxima ao tanque. Nem sequer deu atenção ao menino. Fosse brincar na sala e não lhe desse mais sustos.

A rosa gótica (Dias da Silva)

É um romance, em segunda edição, mimoseado com o prêmio Cruz e Sousa, 1996, da Fundação Catarinense de Cultura, categoria romance nacional. É uma narrativa em primeira pessoa – Victor Hugo é o narrador, que é o autor – o próprio Nilto Maciel –, que é primo de outro Victor Hugo que é irmão do protagonista e bibliófilo, Lamartine, da família Coqueiro. Narrativa simples. Sem afetação. Fluente e dinâmica, É a busca de raízes genealógicas. Sem nada de vaidades. Sem contar vantagens ou invencionices.

O narrador bota logo, de começo, realidade, e sonhos, e fantasias, e dúvidas, e indagações, alguma tensão dramática, tudo entremisturado nas 188 páginas de A Rosa Gótica. É verdade: de entrada, o autor Nilto Maciel já vai criando tensões e expectativas, na mesmice do cotidiano. Já se tem também a certeza do escritor maduro. De um criador de estilo.

Lê-se na orelha que Fernando Py tem esta impressão sobre o livro de Nilto Maciel: “é um romance sobre um romance”, apresentando semelhança com , por exemplo, O Nome da Rosa, de Umberto Eco. “Trata-se, na verdade, de história de um bibliófilo erudito, Lamartine, primo do narrador, dono de uma biblioteca vastíssima de obras raras e medievais”... No fim do comentário, tem-se que o “narrador se debate em sua individualidade, da qual principia seriamente a duvidar. E a duvidar da existência de seus leitores”.