Translate

sábado, 16 de fevereiro de 2008

A noite tece a cidade (Benilson Toniolo)



Com seus cabelos de gelo
A noite tece a cidade
E a lava com a água-saliva
Que extrai da boca dos homens.
Por sobre as casas e as ruas
Escorre a líquida noite,
Cresce o volume dos rios,
As fontes, os chafarizes,
Faz com que aumente o tamanho
Das crianças e das vilas.
Faxina quintais e muros,
Lambe calçadas e becos,
Com sua língua esverdeada
Trabalha noites inteiras.
Por isso ao nascer o dia
A luz que bate no mundo
Dá novos tons de beleza
À cidade iluminada.
E como ainda a grande parte
Dos homens está dormindo,
A vida, nua e banhada,
Pode então tranqüilamente
Com as mãos do recém-nascido
Rearrumar os cabelos,
Penteá-los e secá-los,
E descansar o seu dia.
/////

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Exílios (Ronaldo Cagiano)



A cidade se perde em seus próprios labirintos: pelas serpentes de pedra e asfalto corre pressuroso um rio de animais metálicos.
Não há mais lugar para os homens.
Anônimos, como areia na ampulheta,
vamos em busca da utópica Pasargada,
enquanto a história nos atravessa como um raio.
A metrópole oriental,
como um ventre, espera o desconhecido e na sua intangível solidão geométrica
exilo-me nos labirintos dos bazares onde florescem catedrais de ausências.
O tempo, enxame de bactéria a nos roer, me leva a mundos que eu sonhei um dia:
De Cataguases a Isfahan
de Brasilia a Teerã,
quanto de mim vai ficando nesses caminhos
com sua orfandade de margens.

Quando contemplo
os picos nevados das montanhas Alborz
ou busco os longes caminhos de Shiraz e Burujerd
os barcos da infância
que lancei no rio Pomba rumo ao desconhecido
ressuscitam nas águas do Zuyandé
prisioneiros do vento, cativos da geografia.

(Teerã, 1/6/07)