(Agostinho da Silva)
Pensando bem, posso dizer que a vida me tem proporcionado, com bastante generosidade, o privilégio de conhecer grandes homens. Um deles foi, com certeza, Agostinho da Silva – um respeitado pensador português (que não se considerava propriamente filósofo, apesar de muitos lhe atribuírem, com ponderáveis razões, essa condição intelectual), professor emérito, ensaísta literário e, verifiquei nos últimos três dias, valoroso ficcionista. Eu o conheci em julho de 1992, em Lisboa, no seu apartamento em um pequeno (se não me trai a memória) edifício localizado bem perto da Basílica da Estrela em um trecho muito simpático de Lisboa: tranquilo e pouco movimentado, embora próximo do centro da cidade. Mas não foi somente por causa da relativa brevidade do trajeto que eu e minha mulher voltamos a pé para o Largo do Rossio, onde estávamos hospedados: andar a pé em qualquer cidade é sempre para mim um indizível prazer a que dificilmente renuncio. Acresce que em Lisboa esse prazer se intensifica, por causa do infinito número de valiosas e tocantes descobertas que nos surpreendem a bem dizer a cada passo. (Nessa volta ao Rossio aprendi, por miúdo exemplo, pegando e vendo um exemplar em uma loja, o que é mesmo essa coisa chamada peúga. E em uma ourivesaria antiquíssima recolhi, com habilidade, uma breve aula sobre os quilates que identificam a qualidade do ouro.)