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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

A mulher cega (Paulo Lima)




            

Foi Belinda quem falou sobre o anúncio no jornal. “Isa, acho que vi algo que pode servir”. Eu havia sido dispensada de um emprego e atravessava uma espécie de limbo. O dinheiro da indenização me garantiria uma pequena tranquilidade, mas eu sabia que era algo temporário.  Dois, três meses no máximo. Depois ele acabaria, e eu teria de sair em campo outra vez. “Do que se trata?”, perguntei.  “Espere aí”. Ouvi o som rascante de papel sendo folheado freneticamente, depois ela leu o anúncio dando à voz uma entonação teatral, como se comunicasse uma premiação.  Não falavam em telefone, mas havia um endereço, que anotei num resto de guardanapo.
            

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O tonel de vinho dos deuses (Nilto Maciel)



(Luís Augusto Cassas)

O ano do fim do mundo (o mais recente) levou de nós alguns camaradas: Airton Monte (meu velho amigo, de antes da revista O Saco), o bardo Barros Pinho (gestor cultural), Lustosa da Costa (com quem me encontrava com frequência em Brasília e Fortaleza) e Manuel Soares Bulcão (de quem tive o prazer de me aproximar, há alguns anos). Não quero, porém, dedicar este dia a eles, pois já lhes devoto minhas insônias, minhas angústias e minhas alegrias, que são diárias. Quero oferecer este penúltimo dia de 2012 a Luís Augusto Cassas. Não exatamente a ele (de quem não tenho conhecimento pessoal), mas à sua criação poética. Ou à belíssima edição, pela Editora Imago, de sua obra completa, em dois grossos volumes, com capa dura. Seus escritos eu os pervago há anos. Não sei dizer desde quando. Só sei que eu morava em Brasília. Então esse tempo é anterior a 2002. Tenho dele diversas coleções de poemas. Não direi quais, por falta de disposição de ir ao aposento dos criadores modelares de versos. (Minha casa não é comprida nem larga, mas dividi-a em cinco ambientes literários. Há um quarto de cearenses, outro de peças raras, um de dicionários, enciclopédias, manuais, gramáticas, etc. Ora, isto não interessa a ninguém, muito menos aos leitores. Passemos, pois, diretamente ao inventário poético de Cassas).