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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

De meu sol nado ao vário ocaso nosso – III (Nilto Maciel)



                                                             (Fernando Poessoa)

 
Ontem completei 68 anos. Recebi dezenas de felicitações, escritas e orais. Entretanto, não comemoro mais o dia dos meus anos. Fico triste (não choro mais) e mudo de assunto. “No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, / Eu era feliz e ninguém estava morto”.

Dediquei todos esses dias a revisar Gregotins de desaprendiz. Como tenho suado! Em meio a isso, li “Giacomo Joyce” (tradução de Roberto Schmitt-Prym) e fiz anotações para uma notícia. Quem sou eu para comentar Joyce?

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O conto perdido (Assis Coelho)





Já inúmeras vezes, repetia a mesma pergunta para sua esposa. Não havia visto um conto que deixara sobre a mesa de seu escritório? Era impossível haver algum canto da casa que não houvesse sido esquadrinhado. Por mais inadequado que fosse o local, não deixou de procurar. Sabe-se lá o que o entorpecimento alcoólico é capaz de fazer? Talvez a ânsia de não ser plagiado e a busca irrefreada pelo  reconhecimento o fizeram esconder em local inacessível, que até ele mesmo não era capaz de conceber tal esconderijo. Sabia da aversão e indiferença de sua mulher pelos livros, sobretudo por tudo que fosse ligado a literatura, coisa que ela considerava de somenos importância ou mero passatempo de desocupados. Aquele conto, entre outras coisas, seria também capaz de mudar a opinião sempre depreciativa da sua mulher que por anos perguntava: o que esta tal de literatura te traz de bom? Por que ela não te ajuda a sair dessa vida de merda que levamos? Por que tu e teus parceiros perdem horas e horas esvaziando garrafas e falando de um tal de Kafka, um tal de Dostoi não sei o que, um  tal de Guimarães  Rosas e  outras criaturas de nomes esquisitos, me diga pra quê? Dessa vez ela saberia. Até que enfim conseguira o que sempre sonhou. Recentemente havia escrito o conto que sempre sonhara. Logo estaria fazendo parte de antologias em todas as livrarias brasileiras e, talvez, em antologias estrangeiras. Calaria a boca de muitos escritorezinhos que haviam publicado alguns continhos em alguns jornalecos e se consideravam uns Tchekhov ou, no mínimo, um Maupassant. Sabia que agora, sem a cegueira da auto-afirmação e sem os arroubos do narcisismo, havia escrito o conto definitivo de toda sua vida obscura de contista.